14 de abril de 2007

Encontro com artistas


Nascer no Brasil não é uma escolha. Ser brasileiro é outra coisa.
Ouve um tempo em que, um pouco por rebeldia, outro pouco por ignorância mesmo (falta de conhecimento do que realmente é a cidade de SP) abracei a idéia da turma que mora fora do Brasil. “São Paulo é um vírus, um caos vestido de transito, violência, medo. Um lugar onde o tempo corre e a tranqüilidade da alma fica sempre para trás.”

Este era o discurso de uma Giovanna, enamorada do Califórnia way of life, onde a vida transcorre entre o balanço das ondas e das cordas da guitarra do Pink Floyd.
Voltava da faculdade de marketing num jipe, que nunca usou a própria capota, afinal vivia praticamente no deserto, sentava nos cliffs de Blacks Beach e acreditava que aquilo era a vida.

De lá, respondia às cartas de amigos, naquela época ainda escritas a mão, como se o Brasil e São Paulo, fossem um castigo. Com o tempo, fui vestindo a máscara americana. Parei de comer carne (não apenas carne vermelha, todas que vinham de qualquer ser com olhos). Estudei muito e consegui realizar o sonho, que além de meu, era também de todos os outros americanos que conheci. Ir ao Havaí.

Vocês já devem imaginar que a paz não durou muito, não é. Em alguns anos, comendo muito hambúrguer vegetariano, pizza vegetariana e chocolates americanos, acabei 10 quilos mais gorda e com anemia por falta de proteína. Digo acabei porque acabei mesmo.

Hoje, lembrando desse tempo e de outras passagens em NY, admiro ainda mais Lars Von Trier, diretor de cinema dinamarquês, que, antes mesmo de conhecer de perto a sociedade americana, mostrou a meu ver, impecavelmente, a terra das oportunidades, o cenário americano que ilude e transgride a mente humana.Von Trier, junto com Sam Mendes((diretor que estreou com American beauty), são nomes marcados em mim quando penso na sociedade americana.

Ontem, conversando com um amigo querido, americano de nascimento e paulista de alma. Eu reclamava da falta de segurança, da falta de tempo, do estress do paulistano. Contava para Josh, que ainda mora em manhatan, sobre o caso do pai que esqueceu o filho no carro. Lembrava com saudades da época em que morei em NY e nós, amigos inseparáveis, tomávamos brunch no village e conversávamos sobre as psicoses e obsessões da mente humana (ele é psicólogo e ecritor).

Eu já estava quase derrubando a raiva na frase: “Ai que vontade voltar para NY”, quando sua memória infalível lembrou da minha fase californiana. Logo depois arrematou minha admiração:

“Giovanna, my dear, Freud não passou a vida estudando numa bolha. Ninguém é feliz num mundo ideal. Quem disse que o que você considera hoje ideal é o que te fará feliz? A realidade é a cara da arte e você, uma artista, sempre se inspirou na diversidade que é o ser humano. Não somos feitos apenas de mel. Somos pimenta também. Este é o segredo, captar essa tênue e espetacular característica contraditória e transgressiva que é o humano, mas isso Giovanna, exige muita arte e sensibilidade”.

Fui dormir com essas palavras na cabeça e hoje, vendo uma exposição de fotos do Luiz Braga, vi o que o Josh me disse.Na galeria Oeste e agora também na Casa Do Saber, Luiz Braga fotografa sentimentos em imagens que dizem e contradizem o que julgamos saber. E já que meu amigo não está aqui, coloco essa foto em sua homenagem para que, quem sabe eu também inspire seu final de semana como ele inspirou o meu.

7 comentários:

André disse...

Engraçado, que eu comecei a gostar mais de São Paulo quando morei um ano em Salvador. Agora que estou de volta, já não reclamo tanto como antes, mas que o trânsito continua a me estressar, isso continua...

Nirton Venancio disse...

tá inspirando meu começo de semana! Valeu!

Bruna Machado dos Reis disse...

Procurava alguns blogs interessantes, parei no teu. Daí comecei a imaginar quando meu "Korkoulokou" vai deixar de ser escrito por uma observadora, e passar a contar a história de uma personagem de carne e osso como você; Imaginei meu aniversário de 18 anos, pensei o quanto era triste jogar minhas perspectivas pro amanhã tão distante e decidi: vou rodar a baiana (a típica mulher do país que tanto te decepciona) e me transforma a "dona da história". Obrigada por ter me trazido de volta a realidade, Giovanna.

Anônimo disse...

Nossa Giovanna, obrigado por repartir conosco esta mensagem do seu amigo de NY. A adversidade é o melhor terreno para a construção das idéias.

Beijos!

Bruna Machado dos Reis disse...

Você é virginiana como eu! Descobri agora, vendo teu perfil.
Eu sei de tudo isso que você me falou, acho também que muitas vezes só falta dizer pra você mesma: "O dia está lindo, vamos ser felizes!" e pronto. Como num passe de mágica a nuvenzinha cinza sai de cima da sua cabeça e fica tudo mais leve, se me permite a metáfora batida.
Meu namorado costuma dizer que o dia que o homem conseguir utilizar perto de 100% do cérebro, vai se descobrir muito mais influente no decorrer dos fatos. Quem sabe ele tenha razão. Pelo menos no nosso humor pode ser que possamos mandar!
Beijão :*

marcos disse...

Muito legal o seu post. Vou usar um lugar-comum que adoro: 'a felicidade NÃO está em outro lugar'.
Beijo & stay luminous.

Poeta Punk disse...

"Ninguém é feliz num mundo ideal"

A felicidade esta na busca intensa de algo quase sempre inalcançavel..que uma vez alcançado perde o gosto da conquista e nos mostro que muitos degraus acima esta algo novo e novamente inalcançavel.