22 de maio de 2018

Sempre Acabo Voltando

Dizem que sempre voltamos para nossas paixões. Escrever e uma das minhas.
No começo deste blog me animava pensar que muitas pessoas poderiam ler meus pensamentos sem sentido.
Hoje o que me move e justamente a impressão de que em meio a tantas informações e textos de qualidade melhores que os meus disponíveis por ai, dificilmente serei descoberta.
Essa clandestinidade faz com que pela primeira vez eu sinta que estou escrevendo para mim. Estou escondida em plena vista.
La vou eu novamente mergulhar em meu inconformismo com esse mundo.
Olho ao meu redor e sinto que não caibo, por isso invento novos atalhos e espaços.
E mesmo tendo a certeza de que nada posso fazer para curar o ser humano, jamais deixarei de tentar, não porque eu seja determinada ou um ser de luz, mas porque sou demasiado vaidosa para me deixar domar.



8 de julho de 2014

O Caos e nós





Então encontramos o caos. A raiva. Os problemas. E o que fazemos? Lutamos, usamos toda a nossa força para afastar o caos de nós.

A única forma de viver em harmonia é abraçando o caos. Tudo o que a vida coloca diante de nós é exatamente o que estamos precisando. O quanto antes entendermos isso, melhor.

Meu Momento


As vezes é preciso deixar desabar nosso castelo de papel, para com as pedras encontradas na estrada, construir outro mais forte. Mas ainda sim é bom saber, ele também pode cair, afinal, tudo é transitório.

22 de abril de 2014

Eu na Ana Maria Braga


Eu sempre tive vontade ir ao programa do Jô e da Marília Gabriela. Do Jô, eu fui, mas ainda não como entrevistada. Fui acompanhando uma amiga querida, a cheff Dahoui. Na Marília Gabriela, ainda não passei perto, mas hoje apareci na Globo!
Sim gente, eu também tenho minhas "futilidades". Se é que esse amor pelas câmeras possa ser chamado assim. Pois eu levo bem mais como uma paixão pela comunicação.
Chamem como quiser, mas vejam lá como estou no Programa "Mais Você".
Assistam aqui!
E acompanhem minhas receitinhas no Panela e Tênis.

bjs

21 de janeiro de 2013

Presa

Estou presa. Presa numa certeza de ser livre que me assusta.
Tenho medo de sair por aí fantasiada de mim e não saber mais como voltar.
Nem sempre consigo fugir desse carnaval. As máscaras me perseguem e algumas são feitas de tamanha verdade a ponto de passarem por falsas. A verdade assusta. Engana. Como as flores. Ao admirar uma orquídea outro dia, não resisti, tive que tocar para acreditar. Era perfeita demais, parecia mentira.
Mas por que é mesmo que desconfiamos tanto? Queremos a beleza, mas duvidamos daquela que temos. Precisamos da comprovação do mundo.
E quem comprova o mundo?

Eu quero sair e me perder. Quem sabe eu me encontre? Acontece, sabia?

19 de janeiro de 2013

Lance e a Hipocrisia


"Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver" Cazuza 


Hipocrisia! Esta é a palavra do momento.
Ex garota sexy das páginas das revistas masculinas “inventando” leis a favor da família e bons costumes. Milhões de pessoas, muitas delas, sonegadores de impostos, racistas, ou pessoas comuns, leia-se, passíveis de cometer erros, não apenas condenando, mas crucificando um antigo ídolo. Sabe o que isso me lembra? Os filmes do Oriente médio onde eu via pessoas penduradas em praça pública sendo apedrejadas e com seus corpos queimando, enquanto uma plateia faminta de “justiça” assistia extasiada.

Que mundo é esse em que vivemos? Eu não tenho ídolos, se tivesse, seriam os milhões de brasileiros anônimos que pegam todo dia 3 “buzão” para trabalhar e no final do mês recebem um salario insuficiente para uma vida digna, mas que milagrosamente terá que sustentar toda uma família. E a culpa é do patrão? Claro que não. Vivemos numa realidade invertida onde poucos têm o que merecem e muitos roubam o que tem. Triste? Sim, muito triste, mas é assim que estamos acostumados a viver. Esta é a nossa “caverna de Platão”.  Mas isso é coisa antiga, faz parte da vida, então quem vai se revoltar, arregaçar as mangas para tentar mudar? Ficar irritado ao saber de mais um roubo absurdo no governo? Não! Já estamos acostumados, como escuto por ai. Isso é o “normal”.

Agora o que esperar de um ídolo? Um atleta que teve nosso apoio. Que apoio? Quem são vocês que estão ai gritando ter perdido um ídolo? Quantas corridas de ciclismo assistiram? O que vocês sabem do mundo dos “pobres coitados que tentam competir limpos”? Ora, tenham um mínimo de bom  senso. Você aí que está usando palavras de baixo escalão para julgar seja lá quem for. Você que trabalha sei lá com o que? Nunca fez uma transação ilícita? Nunca burlou o sistema? Nunca deixou de pagar um imposto ou fez a velha malandragem de pedir recibos de consulta para seu médico e pegar reembolso com o seguro de saúde? Ah ta, mas isso faz parte do seu trabalho, não é? São, como dizem, “ossos do ofício”. Então tá certo, vai lá subir no topo da hipocrisia e aponta as pedras para quem fez do ciclismo seu trabalho e também cometeu os tais ossos do ofício. Se eu acho certo? Não! Acho um absurdo. Assim como acho um absurdo quando vejo alguém subornando um guarda na estrada. Mas acontece. Acho triste ver um cara que inspirou milhões de pessoas, no final das contas ser o que? Um louco como o Dr. House do seriado. Um maluco capaz de ser maior que todos em tanta coisa, inclusive na falta de escrúpulos. Um cara que destruiu a vida de dezenas de pessoas com processos injustos. Mas e agora? Qual a pena desse cara?

Vamos pendurar o Lance em praça pública e cada um de vocês que nunca cometeu os crimes dele, mas que também nunca subiu numa bicicleta ou passou anos treinando, como só é possível para um louco, vai pegar uma pedra e jogar? É isso? É isso que somos? Um bando de seres que se dizem humanos mas querem sangue?

Quantas pessoas usaram a “falsidade” dele e criaram forças para enfrentar uma doença? E ai? Se curaram? Mas e agora? Vamos apedrejar pois era tudo mentira. Tudo bem que mesmo a mentira serviu para pessoas que precisam desses ídolos para vencer. Pior que isso são os que destilam seu ódio dizendo com autoridade de cientista vencedor de Nobel, que a doença também foi culpa dele. Claro, ele planejou este câncer. Planejou a cura e tudo o que seguiu.

Ah se a vida fosse assim tão clara. Ah se pessoas fossem monstros ou anjos. Minha dúvida é principalmente uma. Somos realmente quem dizemos ser? Ou somos nossos julgamentos, nosso ódio? O que faz de uma pessoa melhor que a outra? Existem pessoas melhores? E o que faz de nós juízes da raça humana?
Se estivesse em minha mãos julgar, eu o condenaria o Lance. Tomaria os títulos, faria a justiça, como está prevista na lei em relação à seus atos. Se coubesse a mim o veredito, seria culpado! Mas a pena a ser cumprida, esta eu deixaria para quem tem mais competência do que eu para julgar, afinal, o que eu sei de um mundo em que nunca estive? O que eu sei de uma pessoa com quem nunca conversei? Só sei que é culpado, mais nada. Mas será que isso é tudo?

7 de janeiro de 2013

A Bela e o Mar


Depois de conversar com Cecília Echenique, não tive dúvidas, me mandei para o Nordeste, Jericoacoara para aprender kite nas férias do reveillon. 
A estilista, conhecida por suas criações cheias de personalidade no mundo da moda, tem talentos além das agulhas e me contou sobre suas aventuras no mar. Campeã brasileira de vela, viajante e aventureira, é uma das minhas inspirações no mar. Assista nossa conversa em mais um programa "Be Side". Para a matéria completa, baixe o app OnOn.
E vamos começar 2013 com muita energia.


19 de dezembro de 2012

Tem dias que a gente fica tristinha, mas passa, isso também passa...

To numa abundância de tristeza que não sei não. O jeito é colocar máscara de sorriso e sair dançando. Vai que a alegria se engraça e vem chegando. Tem horas que eu só queria ser mais rasa. Assim quando me metesse a besta e tentasse mergulhar, a cabeça não passaria da borda. 

7 de dezembro de 2012

Be Side, conhecendo o lado B de você.


E não é que um dia ele chega. Passamos anos imaginando, sonhando, planejando. A vida segue e ele, o nosso sonho, vai andando conosco até nos acostumarmos e é mais ou menos nessa hora que ele nos assusta. Se torna real e sai derrubando expectativas, quebrando paradigmas e claro, causando aquele frio na barriga tão conhecido das crianças em noite de natal.

A minha hora chegou! Sempre fui apaixonada por uma boa conversa e costumava brincar com amigos que meu sonho era ter um programa de entrevistas. Eu já havia me acostumado com ele como sonho e estava feliz assim. Até que caí na loucura de querer muito e acreditar em anjos. Isso é um perigo. Um anjo chamado Adriana Calabró apareceu e falou: Você quer um programa? Então vai ter!
E assim, como numa passo de mágica seguido de muito trabalho ele nasceu e está crescendo.

Minha vontade explorar o "outro lado" das pessoas se transformou no "Be Side", programa de entrevistas que habita um plano super hi-tec. Vive dentro do app OnOn, disponível para Ipads e tablets e mais. Já vem de fábrica em todos os devices Semp-Toshiba e HP.

Agora divido e convido vocês a sonhar comigo. Conheçam e me contem o que acham. 

7 de novembro de 2012

Triste

E quem disse que alegria tem que ter motivo? A tristeza também não. Tem alegria que começa sorrindo e acaba encharcada. E quem vier com receita, pode mandar voltar. Só sei que to com vontade chorar e isso significa apenas uma coisa. Tá na hora de ligar a música bem alta e me mandar sair até a vontade passar. 

1 de novembro de 2012

Dica do Dia

Momentos que decidem o nosso futuro são raros, cada vez mais raros. Na juventude temos milhões de estradas para escolher e não carregamos mala nenhuma. Com o tempo nossas bagagens vão ficando pesadas e a vista já não é tão boa para encontrar estradas novas. Por isso, de vez em quando, deixe as malas no chão, escolha uma estrada nova só para variar. Surpreenda o seu destino, sinta sua vida nas suas mãos e use-a enquanto você ainda a tem, pois pode acreditar, o tempo passa e se temos controle sobre nossa vida, o mesmo não acontece com o tempo. Fazer escolhas é uma dádiva, aproveite!

21 de setembro de 2012

Screw Art

"A arte, felizmente, ainda não soube encobrir a verdade." Oscar Wilde

Muita gente tenta entender a arte, nomear, explicar. Eu acho que sua função é justamente o oposto. Confundir, emocionar, nos tirar do lugar seguro e propor outra forma de ver o que sempre esteve alí, bem diante dos nossos olhos.

Tudo pode ser arte, desde que você olhe para aquilo e entenda que alguém genial, que só pode ser chamado de artista, mudou uma coisa banal de lugar, e esta simples mudança criou o que já não se pode mais chamar de coisa.

Muitas vezes entro num museu e fico olhando até que o sentimento vem. Não me importo se sei o que o artista quis dizer, quis passar. 
Quando eu pintava, mesmo fazendo vários rascunhos, pesquisando sobre temas, mitos, línguas extintas, o que eu buscava era exatamente o que busco quando escrevo, tirar uma emoção de dentro do observador ( leitor). Não considero arte o que já está pronto. Acredito numa "parceria" entre obra e observador.

A arte deve tirar o que temos dentro, por isso, não basta ter aula de história da arte. É preciso viver, sentir, ter emoções prontas a traduzir o que enxergam nossos olhos. Quem admira, completa ou não uma obra. Uma pessoa vazia, dificilmente encontrará o que a arte nos dá. 

Um belo exemplo é Andrew Myers e seus parafusos. Tente não se emocionar ao dar de cara com uma de suas obras.

15 de agosto de 2012

Amando em dose Dupla


Amar é bom, mas como tudo, quando é muito, pode machucar.
É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? Responde que não, aqueles que vivem conforme lhes foi ensinado a sociedade, a religião e a cultura da culpa.

No amor verdadeiro não cabe traição, pensamos. Mas o que é traição? 
E principalmente o que é amor? Quem ama de verdade é capaz de trair?
Mas de onde vem o amor? 
O amor vem da nossa alma. Dela que é imoral, que não respeita as convenções e nem as regras da sociedade. Dela que se faz nua e nos deixa loucos se não escutarmos o que tem a dizer.

O amor é inerente ao ser humano. Ninguém, nem mesmo as pessoas mais racionais estão livres dele. 
Já foi considerado uma droga, por Platão. Já foi motivo de glória pela igreja.
Mas o amor é simplesmente ele e mais nada. Assim como os fenômenos da natureza, ele passa arrebentando tabus, destruindo famílias, fazendo ruir os preconceitos. 

Nós todos somos capazes de amar muitas pessoas. Claro que cada amor é representado de uma forma. Amamos nossos filhos, pais e amigos de forma diferente daquela que amamos nosso parceiro emocional.
Mas quero falar do amor de almas, que pode ou não ser vivido por homem-mulher. O amor que está acima do bem e do mal. Regras são meras pedras a serem deixadas pelo caminho de quem se depara com ele. Este amor não respeita nem a mais básica das regras, a dos opostos. O amor do qual falo é arrebatador e não escolhe sexo. 

Por viver em parte na ficção, é lá que encontro a verdade. São nos personagens desprovidos da obrigação da realidade que observo o amor se manifestar com toda a sua força. 
Capitú, Scarlet O’Hara, Ana Karenina, Lara de Dr. Jivago e Bela do atual Crepúsculo.

Somos todos reféns nas mãos desse sentimento que aparece sem ser convidado.
Como não sofrer com o amor dividido entre os irmãos em “Lendas da Paixão”? Qual deles é o amor maior? Qual merece ser vivido e qual deve ser sacrificado?

Como não entender a dor de um marido que ao se apaixonar e amar de verdade outra pessoa, sofre as consequências para não machucar seu grande amor, a mulher, com quem ficou casado mais de 40 anos ( Sean Connery em Corações Apaixonados). O arte, como sempre vem antes de nós e, de forma simples, coloca nossos tabus numa panela e faz uma bela palla ao estilo "Dieta Mediterranea"

A arte imita a vida e nossos corações não seguem ordens, nem lógica. Somos senhores dos nossos destinos, mas seremos sempre escravos dos nossos sentimentos.

A Carta


Costumo dizer, e acredito, que o mês de agosto, mês do meu aniversário, é mágico. Desde pequena acreditei nisso, e talvez seja este o motivo dele ter se transformado em conto de fadas.

Muitas das datas que marcaram minha vida, aconteceram justamente em agosto. A primeira exposição na época em que eu pintava quadros, o primeiro beijo. O lançamento do meu primeiro livro.

Agosto é minha primavera. É quando me sinto mais bonita, é quando acredito de novo que sonhos são apenas rascunhos. E se envelheço um ano cada vez que viro as páginas deste mês no calendário, sinto-me sempre mais jovem de alma, quem sabe pelos passos que vou dando em outra dimensão, onde o nosso tempo nada significa, se não números. O fato é que em agosto, tudo pode acontecer, pelo menos para mim.

Acabo de receber meu primeiro presente de aniversário. Uma carta! Quando vi o envelope, tímido entre as contas, tantas contas. Duvidei. Antes de abrir, pela transparência do papel, notei várias linhas escritas à mão.
Ninguém “perderia” tanto tempo escrevendo cartas publicitárias ou de pedido de doação. Investiguei o envelope e me surpreendi ao saber que a carta vinha de Boa Esperança, cidade onde nasceu meu grande ídolo da música, Nelson Freire e também uma grande mulher, minha mãe.

Mas a letra, delicada, escrita com a calma que só quem mora no interior tem, não poderia ser da minha agitada mãe.

Ha quanto tempo eu não segurava uma carta de verdade. Carta escrita com carinho. Vislumbrei uma pessoa sentada em sua escrivaninha, de onde tirava com cuidado uma caneta e mergulhava por inteiro em mim. Sim. Para escrever uma carta, assim como para tocar piano, não se pode pensar em outra coisa. Cartas, diferentes de computadores, não tem outras janelas chamando nossa atenção. A carta é a estrela. Branca, aguarda paciente palavras serem colocadas, uma a uma.

Falava sobre meu livro, sobre cada parte dele. Da capa, epígrafe, e do texto. Não apenas o texto por completo, mas partes dele. Citava ainda palavras minhas, reescritas por suas mãos atentas.

Emocionada, deixei todos os outros envelopes, que em nada me interessavam e sentei no sofá com a calma e atenção que uma carta merece.
Li e reli atenta a força de cada ponto, vírgula. Podia sentir a respiração sábia de quem tem o tempo como súdito.
Três páginas depois, aprendi sobre meu próprio texto. Encontrei significados escondidos não apenas nas minhas palavras, mas na minha escrita.
E finalmente cheguei à última e mais importante palavra. Jane, o nome de quem me lembrou onde nasce a escrita e para onde ela deve ir.
Obrigada, Jane, por meu primeiro presente de aniversário.

13 de agosto de 2012

Matando por Engano


Arma carregada.  Cheia com a melhore das intenções. Mira no bandido. Acerta a mocinha. E agora? Vai culpar a vítima por ter se posicionado a 45º a direita da sua mira, pegando de frente a bala que saiu da sua arma?

Como pode alguém querer responsabilizar o outro, que nada fez além de escutar, pelo sentido de nossas palavras? Não concordo.

A palavra é nossa arma, o sentido a direção. Errou a mira? Culpa tua! Somos responsáveis por tudo o que fazemos, isso inclui, claro, falar.

É por isso que acredito ser imprescindível para uma vida saudável entre as pessoas, o aprendizado da comunicação. Esta é nossa arma mais potente e pode em alguns casos, chegar ao cúmulo de cometer um suicídio involuntário.
Se é para matar ou fazer viver. Que se faça consciente.

Ninguém diz que não gosta de você com intenções de dizer que gosta. A palavra é simples, assim como seria nossa vida e nossas relações, se não colocássemos tanta coisa entre elas.

Quer falar algo importante? Pense antes. Imagine as possíveis formas de se falar uma mesma coisa. Quase sempre não há muitas , há apenas uma, a verdadeira e direta.
A mania de dar voltas nos complica, implica em mais palavras, mais sentidos a serem desvendados e vai levando quem está na sua mira para o alvo.

Seja claro. Seja simples. Seja honesto e muito provavelmente sua pontaria estará em melhor forma.

Palavras, assim como balas ou flechas, não fazem curvas, vão aonde nós mandamos e uma vez soltas, não voltam. Ferem. E acredite, é mais fácil consertar uma arma do que corrigir a cicatriz. Por isso fica aqui minha dica.

Deixe as desculpas para os outros. Use sua arma e acerte onde mira, ou vá ao enterro das suas boas intenções vestindo um terno listrado.  

14 de junho de 2012

Rebeldes ou moleques?

Cripta do movimento "Pixação" jogando tinta no curador 
A arte sempre me acompanhou. Antes mesmo de entrar para faculdade de Belas Artes, em plena adolescência, minha família e eu já me considerava artista. Algumas vezes cheguei a pensar que talvez fosse este o sinônimo de rebelde, já que era a segunda palavra usada para me tratar, carinhosamente ou não.
Cresci assim e acabei me acostumando. Se eu tinha um problema, me trancava na "lavanderia", um quarto enorme com varanda, pensado para ser uma lavanderia e roubado para mim, o que foi bem simples já que nenhum dos meus 4 irmãos se interessou em entrar nessa disputa.

Comecei pintando Snoops, e fui crescendo junto com as telas, tintas e claro, a revolta. Aos poucos acabei me acostumando com o tal sentimento de conflito em que diziam, eu vivia mergulhada. Até eu estranhava quando concordava com tudo.

Meu mundo foi sendo escrito em cores e símbolos. Desde muito nova me apaixonei pela mitologia. Usava estas histórias como uma fantasia para encobrir o que me incomodava no mundo. Eu não entendia nada de arte, pelo menos não da arte que ficava dentro dos museus que eu costumava frequentar. O que eu sabia era que algumas coisas ali dentro tinham a incrível capacidade de mudar outras coisas, que eu nem sabia o que era, dentro de mim.

Me lembro da emoção que senti ao olhar uma tela gigante com cores frias, cabeças cubistas que pareciam se contorcer de pânico. A Guernica também olhava para mim. Me desafiava a entender aquela língua um dia também chamada rebeldia.

Muitos anos depois, a Guernica continua em Madrid. Eu continuo sendo chamada de artista e claro, a rebeldia continua meu apelido. Mas a arte saiu dos museus, subiu em prédios, cobriu muros e brigou por cada centímetro do seu direito de ser. O que nunca mudou e dificilmente mudará é a tal da "coisa". Aquela coisa que mesmo um leigo sente ao se ver diante de uma obra de arte.

"A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade", disse uma vez Pablo Picasso. E é exatamente esta mentira a máscara usada por todos os artistas. Mas o que a torna verdade? Em minha opinião, ha apenas uma verdade para cada artista. Minha máscara será arte em mim e pode até inspirar arte em outro, jamais será arte em outra pessoa.

Cada um de nós é absolutamente único, tanto fisica como intelectualmente. Ainda que muitos sigam o senso comum, este nunca será o senso de todos, mas apenas um lugar seguro onde a maioria escolheu ficar. Talvez seja este o motivo de tantos artistas serem considerados "diferentes" ou "rebeldes".

Mas isto não torna todos os rebeldes, artistas. Para que a arte aconteça fora, é preciso estar antes dentro de quem a cria, ou não existirá de fato. Por isso considerei muito mais um ato de rebeldia feito por moleques, do que um protesto artístico, o que o grupo de brasileiros, convidados para nos representar na Bienal da Alemanha aprontou. Jogar tinta no curador? Onde está a arte disso? Contra o que ou quem eles estão protestando? Ou será que os nossos artistas foram pegos usando máscaras de outros?

Para ler sobre o acontecido da Alemanha clique aqui.

24 de maio de 2012

Até que o Facebook os Separe ?


O pecado mora em frente, no Facebook. A culpa é do FB. Não use muito. Evite escrever o que pensa. Cuidado com as fotos.
Escuto isso diariamente e sabe o que acho? Um grande exagero. Sim, gosto muito do Facebook e ainda não houve um “tropeço” para que eu culpasse o tal demônio das relações.
Outro dia estava conversando com uma das minhas irmãs, jovem, bonita, apaixonada. Posso dizer que, junto com seu marido, formam um casal encantador. Ela me alertava quanto ao perigo do FB. Discutíamos sobre uma pesquisa feita nos EUA que dizia ter o FB citado em 1/3 dos processos de divórcio. Além disso, 80% dos advogados que cuidam de processo de separação, afirma que a causa dos divórcios seja o “estímulo” de traição provocado pelo Facebook. Imagino que seu criador esteja fora da tal pesquisa.
Depois de ter morado por muitos anos nos EUA, tenho a “cara de pau” de discordar. Primeiro porque acho que o erro começa no motivo. Os americanos casam-se por interesse e não por amor ou afinidade (claro que existem exceções). Podem até se apaixonar por uma pessoa interessante, mas o interessante deles é diferente do nosso. São criados numa sociedade totalmente consumista, onde tudo é substituível.
No mundo todo existem pessoas interesseiras, mas não são elas que estão em pauta aqui. Falo daquelas, ditas e entendidas como normais segundo as regras de cada sociedade. Assim como os indianos escolhem os maridos das filhas, o que muitas vezes dá certo. Os americanos escolhem por quem se apaixonar.
 Depois desse começo, vem o FB e mostra a cara, a verdadeira cara de cada um, afinal, não é mais possível viver sua mentira sozinha (o). Estamos na era Big Brother. Melhor se cuidar, está todo mundo de olho em você.
A meu ver, fica claro que o FB não é a causa, mas o resultado de casamentos fadados ao fracasso.
Se antes a senhora chiquérrima, respeitada por suas jóias e casamento “perfeito”, vivia em seu mundo de bolha cor de rosa, onde amantes transformavam-se em diamantes. Hoje as aparências não enganam tanto assim.
O que vale ganhar presentes quando a foto do marido está estampada na página de uma gostosona? Para onde foi a preciosa aparência?
 O Facebook não inventa pessoas, não coloca máscaras. Ao contrário, ao escolhermos as máscaras que queremos mostrar, nos revelamos, mostramos o que de fato importa. Nunca foi tão fácil conhecer alguém. Nunca foi tão difícil se esconder do mundo. 

11 de maio de 2012

Um pouco de mim

É aqui que sou mais eu do que meu corpo. Escrevo do mundo enquanto dispo meu universo.
Na ficção se esconde a realidade. São nas palavras que mora o eu.
Sou isso. Sou feita de letras, pensamentos e dúvidas.
Ao juntar tudo isso, me restam apenas palavras. Mais nada.

27 de abril de 2012

Tocando em Estranhos


Atualmente estamos cada vez mais próximos virtualmente e distantes fisicamente. Talvez tenha sido esta a inspiração que levou o fotógrafo Richard Renaldi a criar um projeto muito interessante. Ele pediu a pessoas encontradas casualmente pela rua, que se tocassem. Criou uma exposição linda intitulada Touching Strangers .

As fotografias nos convidam a entrar num mundo
desconhecido e buscar uma identidade escondida em cada um desses estranhos expostos às lentes do artista.

26 de abril de 2012

Declaraçao de Amor. Qual a sua Preferida?

Qual sua declaração de amor preferida? Esta foi a pergunta da noite entre amigos.

Éramos seis. Uma das mulheres nem precisou pensar. Passou a vida sonhando com a "sua" declaração de amor. "E o vento levou", ela disse, sem dúvidas.
O namorado concordou, embora eu tivesse certeza que, nem mesmo o filme, ele havia assistido.
Acabei por concluir o óbvio, pelo menos para mim. Começo de namoro é tão fictício como declarações cinematográficas, a diferença é que dura menos e ninguém se lembra.

Enquanto eu caia na real, o outro foi falando.
"Simplesmente amor! Essa foi a melhor! Uma sequencia de placas onde o cara se declara para a mulher do melhor amigo em pleno Natal, sensacional!

Fiquei tão curiosa para assistir ao filme quanto para imaginar o que os amigos pensariam disso ao deixarem as mulheres sozinhas com o amigo. Também achei estranho a velocidade em que ele se lembrou dos detalhes. Fui obrigada a vasculhar minha mente em busca de algum prova que o incriminasse, mas nada foi encontrado. Passado o susto, voltei para a Terra e a conversa estava mais animada.

Outra garrafa de vinho foi aberta enquanto a declaração do maravilhoso Jack Nicholson em "Melhor é impossível" era lembrada pelo Tuca, que, depois de rondar o passado com filmes que ninguém conhecia e flertar com Fiona e Shrek. E não é que os homens se lembravam de mais declarações do que nós? Jogou na mesa a cena em que o maníaco Jack conclui. "Você me faz querer ser um homem melhor!".

A Paula, mais conservadora decidiu pelo clássico "Orgulho e Preconceito". A frase, que convenhamos, não ficaria assim tão bonita fora do contexto, não fosse o tom solene e a voz rouca da moça ao falar pausadamente. "Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e a amo ardentemente." e ainda concluir com a resposta da mocinha."Você enfeitiçou meu corpo e minha alma. Te amo. Te amo. Te amo."

Causou furor até mesmo na mesa ao lado que, pegando carona na nossa ideia, animaram a discussão.

A mim, restou apenas a honestidade. Esta sim, culpada pelo desassossego e não eu.
Me desculpem os apaixonados, românticos e lunáticos. Mas também eu acredito no amor. Arrisco até a dizer que justamente por não ter me casado "ainda", acredito mais do que vocês. Falei.

O silêncio cruel de quem espera uma grande resposta me cobrava a tal declaração arrebatadora.

Vejo que todos se emocionam com contos de fadas, ainda que disfarçados de moderno.
Eu fico com a vida real.
Nada é mais belo que o amor. E ele, o amor, só é possível ser encontrado em nossa nudez. Neste ponto me lembro do maravilhoso "A Alma Imoral", mas vamos ao que interessa.

É preciso se despir de conceitos, de crenças e principalmente de esperança para dar de cara com ele. O amor não é cor de rosa. O amor não é fácil. Mas para ser, de fato amor, é preciso ser entre almas e não entre pessoas. Não ha receitas, não há certo ou errado para o amor.
Por isso, que para espanto de muitos, o amor que mais admiro não foi fiel, não foi calmo, mas foi real.

O amor entre Frida Kahlo e Diego Rivera, para mim é o mais forte, o que encara a vida de frente. Depois de muitos acidentes, de sentir seu corpo como um quebra cabeça sem nexo, logo após ter amputado os dedos dos pés. Deprimida, vivendo sozinha, sem dinheiro e sem esperança. O ex-marido, Diego Rivera, entra e a pediu em casamento pela segunda vez.

No que Frida responde que não precisa de resgate, ele rebate, mas eu sim. Preciso de você exatamente como é e como sempre te amei.

Esta cena do filme me marcou para sempre. Para mim, o amor é isso. Um sentimento que independe de regra, da moral, que está acima do humano e por isso mesmo, não pode ser julgado por nós, apenas sentido ou não.

Não encontrei esta parte do filme para postar aqui, uma pena, pois é realmente linda.

Cada coisa em seu novo lugar

Pensando bem, o Instagram é meu diário redigido com imagens. E este blog, é meu álbum de fotografias escrito! Eu sou assim, desse meu jeito um pouco confuso, um pouco estranho, mas no final das contas, quem dá bola para a matemática nesse mundo das letras? 

19 de abril de 2012

Em busca de mim

Frida Kahlo - Auto Retrato 1932

Uma vez que nos vemos de frente e sabemos, pelo menos um pouco, quem somos, fica impossível ser diferente. Os padrões e convenções vão caindo e quem sabe, serão eles, nossos degraus para a próxima etapa.

16 de março de 2012

Protesto? Pra que?


Você será assaltado. Se tiver sorte, isso vai acontecer apenas uma vez ao ano e será indolor, pelo menos fisicamente.
Se você é paulistano, já está acostumado. Já sabe que não pode sair de casa com jóias, relógios caros e atualmente nem baratos.
Melhor não usar bolsas “de marca”. Ah nunca saia de casa com seu celular na mão. Se tiver que atender, saia correndo e entre em alguma loja. Também recomendo vender seu carro e trocar por um bem barato, assim gasta menos na hora de blindar. Blindados são o que há de bom, né? Você lá dentro, o mundo lá fora e o ar condicionando te fazendo lembrar que você não pertence àquela loucura. Ufa, isso sim é segurança. Mas cuidado, se alguém bater em seu blindado, lembre-se, não saia do carro. Pode ser um assalto.
Fique gritando lá de dentro, ou use o auto-falante. “Oi, alguém ai pode tirar uma foto da minha traseira ( do carro, é claro), preciso saber se está amassada.”


Mas não fique chateado. O Brasil é assim mesmo. Continue rezando para que melhore. Não se esqueça de incluir nas orações os pobres, os velhos abandonados e os políticos, coitados, que trabalham a nosso favor. Quem sabe um dia, há de aparecer alguém honesto. A nós, resta apenas esperar.

Fazer o quê, não é? Você que não vai se enfiar no meio desses loucos que decidem protestar. Pra quê? Você é brasileira, lembra? Brasileiros vão às ruas para pular carnaval. Colocam os peitos e o bumbum de fora, mas é para se divertir. Não tem cabimento se expor na rua pedindo segurança, não é?
O que vai adiantar? Ninguém assiste televisão. Protestos nunca resolveram nada. Bom, já derrubaram um presidente, impediram guerras, mudaram o sistema de eleições. Mas isso foi lá, em outro mundo. Ou não? Não importa, não vamos falar de história, agora né?
Como bem diz um amigo meu, o que manda no sistema é o dinheiro. Por isso vale mais a pena fazer obras faraônicas, superfaturadas. Quem ganha contratando policiais? Claro que para refazer a imagem de bom moço, até que vale a pena. Mas eu não deveria estar pensando em tudo isso, sou brasileira, tenho o melhor país do mundo e isso basta. 

Imagina se você vai se vestir de branco, encontrar aquela gente cheia de reclamações, fazer parte de um movimento em favor da sua cidade. Isso é coisa de gente desocupada. Muito melhor dar uma volta na Oscar Freire, ver umas vitrines. Meninas, eu soube que as lojas estão lindas. Um arraso.

Também pode aproveitar a manhã para ficar em casa assistindo filme. Não vá ligar a televisão ou ler o jornal, vai que dá de cara com outro assalto. Credo. Notícias ruins em pleno domingo. Vá ao cinema, tem filmes ótimos, tem um do George Clooney, o George, sabe que ele ficou louco? Sim, endoidou de vez, foi preso junto com o pai de 78 anos por protestar na embaixada do Sudão. Agora pensa bem, por que um homem que já tem dinheiro, fama, sucesso, vai se meter nessa? Por que hein? E você, por que?

Para quem quiser dar uma de George Clooney, a manifestação por mais segurança acontecerá domingo, 18 de março às 11:00hs no Parque do Povo. Encontre mais informações aqui.

7 de março de 2012

Mudei de Cor


Decidi ser bege.
Essa coisa de ter opinião dá muito trabalho.

Vou sorrir para todos, aquele sorriso no meio do caminho, em cima do muro, aquele em que você se esconde por trás da educação. Meu negócio é ser simpática. Claro que existem algumas pessoas com quem o sorriso deve ser calculado melhor, afinal, para ser bege é preciso saber matemática.
Vou somar ao branco dos colarinhos que agora ignoro, um pouco de azul e vermelho, que afinal está mais na moda que verde e amarelo. 

Vou parar de defender meu país sempre que alguém apontar o dedo para o espelho. Vou virar as costas e ignorar o homem destratando o garçom. O que é que eu tenho a ver com isso?
E se alguém, por ventura falar mal de algum amigo meu, e daí? Ele não está aqui para ouvir. Vamos rir e fingir que não sei quem é. Nada de discordar. Vai acabar com a festa? O jeito é fazer cara de bege e tomar um gole de cerveja. Vamos nos divertir. Quem quer discutir? Isso é coisa de idealista, louco ou gente com opinião, todos fora de moda.

Na mesa do bar, prometo, só vou falar das novas marcas de roupas, dos últimos tratamentos estéticos e claro, de todos os outros que não estiverem ali. Assunto bege é isso. Falar dos outros, de preferência mal, mas lembrando sempre de começar a frase com. Eu adoro ele mas...
Nada muito polêmico, arte ou outro assunto que exija um pouco de conhecimento. Isso é coisa para intelectual. Falar de política então, nem pensar. Vai que alguém descobre que tem culpa no meio do falatório. Não, eu vou ser bege.

Nunca mais tentar entender porque é que o sujeito faz aula de Cabala a semana toda, posta no Facebook todas as frases do mestre Yehuda Barg e continua a olhar os outros de cima, com ar de quem conquistou seu lugar no céu, enquanto segue bajulando o mais novo melhor amigo rico.

E essa coisa de responder quando alguém me pergunta o que achei. Isso é bobagem. Nem preciso pensar. Acho sempre legal. “Mega legal”. Acho até que vou começar a reduzir meu vocabulário, assim fica mais fácil ser entendido.

O negócio é ser bege. Eu super indico. Você vai adorar.


17 de fevereiro de 2012

A Pele que Todos Habitam


De dentro do escuro , torcendo pela vida de um estuprador, questionando os valores morais de um médico capaz de salvar muitas vidas, menos a sua, entendi a politicagem do correto.

Costumo fazer terapia também no cinema. “A Pele que Habito” , filme do genial Almodovar, me trouxe mais ferramentas para uma questão a tempos discutida entre os poucos amigos que ainda se prestam a este luxo, a discussão da conduta humana. Como julgar, ou por que julgar o que nos é desconhecido?

Durante o filme, diferente da maioria das tramas americanas, o mocinho e o bandido trocam lados, cutucam nossas feridas e estapeiam a nossa “boa conduta”. Quem merece ser julgado? Qual o mau é mais maligno e qual é superável?

O certo e o errado, conceitos banalizados hoje em dia, vão fundo no abismo da filosofia. Ficar cara a cara com nós mesmos é assustador, mais ainda quando nos damos conta de que também aquela parte escondida, abafada, somos nós. 

3 de fevereiro de 2012

Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

O Título é tão lindo que espanta. Dá medo. Parece aquelas embalagens maravilhosas que escondem alguma jóia dentro. De tão bela da medo de abrir.
Acho que foi por isso que o guardei tanto tempo.

"Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios ", dá para ser mais lindo?

Comprei o livro no lançamento. Faz tempo viu. Fiquei olhando para a capa. As letras escritas e uma fonte bacana, uma câmera de fotos no canto. Tudo me atraiu logo de cara. E sempre que isso acontece, minha reação é a mesma. Me afasto. As vezes acho que tenho medo de tudo que sei que vou gostar. E sabe do pior? Eu sempre sei. Não erro. Pode ser livro, gente ou comida. Basta olhara e sentir o perigo chegando.

E quem é que não gosta de perigo?

As vezes tento me enganar. Coisas de mulher. Vejo um livro comercial, colorido, daqueles que todo mundo gosta. Ele olha pra mim. Mas não tem mistério. Não tem risco. Tá tudo lá. Compro. Levo sem embrulho mesmo. E aos poucos vou virando as páginas. Claro que tenho esperança de me deparar com um grande romance. Quem não tem? Mas os clichês vão derrapando nos dias. Lugares comuns. Personagens previsíveis.

Ainda carrego ele comigo por algum tempo. Mãos dadas com ele. E nada. Nada de chegar a lugar algum. Até que desisto. Nem preciso ler até o fim para saber que já chegou ao final. Digo adeus e vou.

O problema é quando aparece um que não me deixa dormir. Me faz cancelar compromissos. Até minha corrida sagrada. Fico deitada com ele observando cada detalhe. Suas linhas, fluidez. Seu perfume.
Mas estes são perigosos, eu sei. Vão nos levando descuidadas para caminhos sem volta. Nenhuma palavra apenas está ali. Elas são pilares de um templo construído minuciosamente para nos prender lá dentro.

Ontem, depois de muito tempo, minhas amigas que sabem tudo de literatura e da vida falaram sobre o tal livro. Lembrei logo do título. Assustadoramente lindo, não?

Agora, quase 30 horas depois e alguns compromissos cancelados, estou quase acabando. Faltam apenas 30 páginas. Decidi parar. Vou deixar que o Cauby e a Shirley existam por mais uma noite em mim. Amanhã tudo volta ao normal, como não há de ser. Como é, sempre que acabamos de ler um livro como este. Obrigada, Marçal Aquino.