16 de setembro de 2010

Asas

O amor era grande. Felizes e juntos começaram a caminhar lado a lado até que ela percebeu que seus caminhos estavam se distanciando. Ele, exagerado em tudo! Amava muito, sofria de mais, vivia na chuva ou no sol, estava sempre molhado ou queimado.

Ela, a Clara, tentava viver no meio, entre os exageros dele e as inseguranças dela. Gostava de chuva, mas preferia tomá-la no verão e de preferência um pouco antes do banho quentinho. Usava protetor solar!

O amor cresceu e Clara acreditou que a escuridão acabaria dando lugar à coerência. Tentaram. Ela tentou não se incomodar tanto com as noites na rua, as mesas de bar e a quantidade de amigos sempre ao redor de seu amor.

Ele tentou encontrar o caminho do meio, só que no meio do caminho encontrou um bar. Clara, cansada de dividir seu amor com os outros decidiu também ela mudar.

Correu na chuva e ao invés de um resfriado, pegou uma alma lavada. Mudou o caminho de casa para não passar em frente ao bar. Em seu novo percurso topou com uma escola de violão. Ao invés de ficar em casa esperando, aproveitou para aprender a tocar.

Com medo de se influenciar pelo drama da novela das oito, escutou o conselho de uma amiga do trabalho e começou a ler. A paixão pelos livros e pela musica começou a crescer enquanto, sem que se desse conta, a insegurança ia diminuindo. Enquanto isso, seu amor continuava amando muito, sorrindo muito e se divertindo com os mesmos amigos no mesmo bar e tomando a mesma cerveja.

Clara já havia lido todos os livros de sua nova biblioteca e achou que era hora de conhecer um pouco mais do mundo. Chamou seu amor, mas ele havia muitos compromissos e preferiu ficar, acreditando que como de costume, ela ficaria também. Os costumes foram mudando. Ela foi para Argentina, conheceu uma amiga, arrumou um emprego, juntou dinheiro e foi com seu violão conhecer o resto do mundo. Aprendeu a cozinhar, a fazer a amigos e a viver mais leve.

Algum tempo passou e Clara resolveu voltar. Estava com os cabelos diferentes, as roupas mais coloridas e a mala cheia de novidades. De dentro do taxi olhou para a mesa do bar e viu seu amor. Na mesma mesa, com os mesmos amigos e a mesma cerveja.

Sorrio para o motorista e pediu que voltasse, havia esquecido uma coisa no aeroporto. Desceu pegou suas malas e encontrou a liberdade no guichê de uma companhia aérea.

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