27 de maio de 2011

Senhor Barba Ruiva

Tanque cheio. Paguei o frentista e aumentei o som. Clair de lune, Debussy. Meu poderoso ansiolítico. As primeiras notas da melodia são leves, delicadas. A pausa tocando o silêncio com maestria. Conheço cada nota como o caminho de casa. Na saída do posto, perdida entre a precisão das primeiras notas, fiquei no pause e não notei meu grande pecado. 21 segundos. Foi o tempo que demorou até que eu escutasse o acorde fatal. Uma buzina furiosa. O pianista mau tocara a segunda estrofe e você estava pronto para a guerra. Minha ausência temporária bloqueou seu carro, entendo, descontrolado o senhor me sugeriu conhecer lugares que não ouso dizer.
Coloquei o Debussy em pausa. Abri meu vidro. Você abriu o seu. Ruivo, barba longa. Me fez lembrar o personagem que matava as mulheres. Seu rosto era puro fogo. Mais cinco segundos até que eu tivesse um minuto da sua atenção. O barba ruiva parecia espantado. Esperava gritos. E eu era só silêncio. Pedi desculpas e desci. Meu senhor, você já ouviu falar em Debussy? Fui até a janela da fera e falei enquanto entregava meu cartão. Vou te mandar um cd com a música que me fez parar de pensar durante segundos atrapalhando sua passagem. Basta você me mandar um e-mail. O endereço está ai. Sei que você tem pressa. Eu também, mas quem sabe um pouco de música te ajude a chegar mais longe.
Seu Barba Ruiva, este recado é para você. Segue valendo a oferta. Mande seu endereço e prometo de mandar a música.

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