5 de setembro de 2011

Rocky Spirit


Deitada na grama do Parque Ibirapuera neste final de semana viajei ao coração das trevas de Conrad, o Congo. Fui passageira de bicicletas voadoras em paisagens inacreditavelmente reais. Acompanhei o drama de uma adolescente indiana que graças a uma bicicleta, pode continuar seus estudos e quem sabe um dia continuar também seus sonhos. Heróis de verdade, de carne e osso dividiam não uma sala fechada, mas um gramado comigo. Tudo isso me levou a um lugar. Eu.
Aqui dentro é tão grande e usamos tão pouco. Eu não sou apenas esta pessoa a digitar teclas formando sentidos. Eu sou também cada um de vocês sentado no mesmo gramado, assistindo a outros tantos eus fazendo o que eu e você gostaríamos e deveríamos fazer. Seguindo seus instintos, cuidando do que é nosso. A única coisa que todos os eus temos em comum é este lugar louco, complexo e cheio de paradoxos chamado Terra. Mas um pouco antes de estar aqui, deitada, estava vivendo uma das causas do medo do mundo. Meu carro foi roubado. Uma arma na cabeça, um manobrista no porta-malas e outros quatro carros sendo levados por pessoas que poderiam ter sido também eu e você, mas despencaram de uma montanha chamada descaso e foram para o lado sombrio desta montanha.
Temos todos nossas duas rodas, seja na bike ou no dia a dia. Podemos optar por esperar ou fazer alguma coisa. Quem sabe não seja tão insensato regar a planta que vai nascer no vizinho. Quem sabe se os que desistiram de seus objetivos, soubessem que estavam a um passo de conseguir, as coisas não teriam sido diferentes.
Eu, você, todos somos parte da mesma coisa, que tal cuidar e dividir?
Embora o Rocky Spirit tenha sido um evento maravilhoso, ainda ficou uma dúvida. Porque existem tão poucos a acreditar que deitar olhando as estrelas em plena cidade de São Paulo, para assistir a filmes lindos sem pagar absolutamente nada é um programa descartável? Onde estavam todos que reclamam da poluição, da falta de qualidade de vida? Da falta de opções saudáveis em SP?

6 comentários:

Nina Maniçoba Ferraz disse...

Gi, grande iniciativa essa de cinema ao ar livre! Legal escrever sobre isso. Belo texto!
Estou cavando inspiração e estava agora mesmo ouvindo as músicas do Into the Wild! bjs

Eduardo Panko disse...

Olá! Meus pesâmes pelo carro roubado... espero que tenha seguro, que seja encontrado, etc., enfim, que dê tudo certo.
A criminalidade de São Paulo é um dos receios que eu tenho por andar de bike em São Paulo... fui e voltei ao Ibira de bike. Na hora do pedal o medo desaparece, mas nunca se sabe qdo pode aparecer alguém armado no meio do nada. Tenho mais medo de acontecer algo assim, do que do trânsito violento de Sampa!

Achei o evento muito bom, decidi ir sozinho e encontrei amigos ciclistas por lá... mas tenho amigos que não se interessaram em ir. Não sei se é um programa que não agrada a todos, agradando mais aos esportistas e amantes da natureza...
Depois dizem que "praia de paulista" é shopping... claro, muito paulista prefere ir a lugares fechados do que aos parques, e prefere ficar nos seus carros do que pedalar.
Mas ainda sim acredito que o Rocky Spirit foi um sucesso, e a Go Outside tem que que fazer mais eventos assim!

Giovanna Vilela disse...

Foi um grande sucesso, mesmo Eduardo! Quem sabe no ano que vem mais pessoas se interessem. Claro que para mim estava perfeito do jeito que estava, sem aquela lotação típica de coisas incríveis. Mas tenho esta mania de tentar trazer todos para as boas coisas da vida. Eu também pedalo por ai, e agora, mais que nunca minha bike será meu único transporte.
Foi uma iniciativa surpreendente da Go Outside, até porque, como disse o David, o Brasil está cheio de lugares outside.
Soube que ainda terá outro evento tipo esse em outubro e um no RJ. Com o tempo, mais pessoas vão aproveitar o colchão verde e o teto estrelado do parque.

Vivien Morgato : disse...

Giovana, muito sensivel e sacado o seu texto. Experiências boas e ruins entrelaçadas de forma inteligente. Gostei.;0)

Sandro Santiago disse...

Tem razão Gio, usamos tão pouco e, muitas vezes, mal este espaço tão grande aqui dentro chamado interioridade. Mas a arte está aí (gracias a la vida!) para nos mostrar ou dizer o que e como podemos fazer ou viver para sermos pessoas mais sensíveis, mais intensas, mais abertas, mais éticas, etc. Os maiores prazeres da vida são gratuitos ou quase isso. Mas as pessoas compraram a ideia de que o prazer envolve sempre algum gasto ou custo. A indústria cultural ou do entretenimento acabou incutindo na cabeça das pessoas esta ideia de que o prazer da diversão precisa ser comprado. Assim, as pessoas deixam de viver aquele prazer mais autêntico e maduro, próprio das pessoas esclarecidas. Leia este texto que complementa o seu e diz por que as pessoas deixaram de viver as coisas simples da vida: http://comoumdiscoarranhado.blogspot.com/2008/02/o-imprio-da-vaidade.html. Beijos!!

Giovanna Vilela disse...

Obrigada pela dica, Sandro, gostei do blog, bjs