Foto: Sebastião Salgado |
Reconheci apenas as mãos. Da
última vez em que as vi, enxugava a saudade num trapo sujo de terra. Minha irmã
se apoiava na barra da única saia florida. Gritava descorada as
notas de um certo violão.
Os pés, nus como agora, fincados
no chão de onde ela nunca saiu.
A mancha no ventre me lembrou
meus irmãos. Sete. E eu, nascido de outra, filho dela.
Procurei seus filhos.
Ocupados, casados, distantes, alguém respondeu. O anel, presente que dei com
meu primeiro salário, ainda estava lá, preso no inchaço dos dedos e à última
promessa. “Este fica comigo enquanto minhas mãos se moverem para lutar.”
Este foi o texto que tive a honra de ler ontem na Balada Literária, na Casa das Rosas, para a platéia mais qualificada de São Paulo.
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