19 de janeiro de 2013

Lance e a Hipocrisia


"Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver" Cazuza 


Hipocrisia! Esta é a palavra do momento.
Ex garota sexy das páginas das revistas masculinas “inventando” leis a favor da família e bons costumes. Milhões de pessoas, muitas delas, sonegadores de impostos, racistas, ou pessoas comuns, leia-se, passíveis de cometer erros, não apenas condenando, mas crucificando um antigo ídolo. Sabe o que isso me lembra? Os filmes do Oriente médio onde eu via pessoas penduradas em praça pública sendo apedrejadas e com seus corpos queimando, enquanto uma plateia faminta de “justiça” assistia extasiada.

Que mundo é esse em que vivemos? Eu não tenho ídolos, se tivesse, seriam os milhões de brasileiros anônimos que pegam todo dia 3 “buzão” para trabalhar e no final do mês recebem um salario insuficiente para uma vida digna, mas que milagrosamente terá que sustentar toda uma família. E a culpa é do patrão? Claro que não. Vivemos numa realidade invertida onde poucos têm o que merecem e muitos roubam o que tem. Triste? Sim, muito triste, mas é assim que estamos acostumados a viver. Esta é a nossa “caverna de Platão”.  Mas isso é coisa antiga, faz parte da vida, então quem vai se revoltar, arregaçar as mangas para tentar mudar? Ficar irritado ao saber de mais um roubo absurdo no governo? Não! Já estamos acostumados, como escuto por ai. Isso é o “normal”.

Agora o que esperar de um ídolo? Um atleta que teve nosso apoio. Que apoio? Quem são vocês que estão ai gritando ter perdido um ídolo? Quantas corridas de ciclismo assistiram? O que vocês sabem do mundo dos “pobres coitados que tentam competir limpos”? Ora, tenham um mínimo de bom  senso. Você aí que está usando palavras de baixo escalão para julgar seja lá quem for. Você que trabalha sei lá com o que? Nunca fez uma transação ilícita? Nunca burlou o sistema? Nunca deixou de pagar um imposto ou fez a velha malandragem de pedir recibos de consulta para seu médico e pegar reembolso com o seguro de saúde? Ah ta, mas isso faz parte do seu trabalho, não é? São, como dizem, “ossos do ofício”. Então tá certo, vai lá subir no topo da hipocrisia e aponta as pedras para quem fez do ciclismo seu trabalho e também cometeu os tais ossos do ofício. Se eu acho certo? Não! Acho um absurdo. Assim como acho um absurdo quando vejo alguém subornando um guarda na estrada. Mas acontece. Acho triste ver um cara que inspirou milhões de pessoas, no final das contas ser o que? Um louco como o Dr. House do seriado. Um maluco capaz de ser maior que todos em tanta coisa, inclusive na falta de escrúpulos. Um cara que destruiu a vida de dezenas de pessoas com processos injustos. Mas e agora? Qual a pena desse cara?

Vamos pendurar o Lance em praça pública e cada um de vocês que nunca cometeu os crimes dele, mas que também nunca subiu numa bicicleta ou passou anos treinando, como só é possível para um louco, vai pegar uma pedra e jogar? É isso? É isso que somos? Um bando de seres que se dizem humanos mas querem sangue?

Quantas pessoas usaram a “falsidade” dele e criaram forças para enfrentar uma doença? E ai? Se curaram? Mas e agora? Vamos apedrejar pois era tudo mentira. Tudo bem que mesmo a mentira serviu para pessoas que precisam desses ídolos para vencer. Pior que isso são os que destilam seu ódio dizendo com autoridade de cientista vencedor de Nobel, que a doença também foi culpa dele. Claro, ele planejou este câncer. Planejou a cura e tudo o que seguiu.

Ah se a vida fosse assim tão clara. Ah se pessoas fossem monstros ou anjos. Minha dúvida é principalmente uma. Somos realmente quem dizemos ser? Ou somos nossos julgamentos, nosso ódio? O que faz de uma pessoa melhor que a outra? Existem pessoas melhores? E o que faz de nós juízes da raça humana?
Se estivesse em minha mãos julgar, eu o condenaria o Lance. Tomaria os títulos, faria a justiça, como está prevista na lei em relação à seus atos. Se coubesse a mim o veredito, seria culpado! Mas a pena a ser cumprida, esta eu deixaria para quem tem mais competência do que eu para julgar, afinal, o que eu sei de um mundo em que nunca estive? O que eu sei de uma pessoa com quem nunca conversei? Só sei que é culpado, mais nada. Mas será que isso é tudo?

Nenhum comentário: