Ideologia
Eu quero uma pra viver" Cazuza
Hipocrisia! Esta é a palavra do momento.
Ex garota sexy das páginas das revistas masculinas
“inventando” leis a favor da família e bons costumes. Milhões de pessoas,
muitas delas, sonegadores de impostos, racistas, ou pessoas comuns, leia-se,
passíveis de cometer erros, não apenas condenando, mas crucificando um antigo
ídolo. Sabe o que isso me lembra? Os filmes do Oriente médio onde eu via
pessoas penduradas em praça pública sendo apedrejadas e com seus corpos
queimando, enquanto uma plateia faminta de “justiça” assistia extasiada.
Que mundo é esse em que vivemos? Eu não tenho ídolos, se
tivesse, seriam os milhões de brasileiros anônimos que pegam todo dia 3 “buzão”
para trabalhar e no final do mês recebem um salario insuficiente para uma vida
digna, mas que milagrosamente terá que sustentar toda uma família. E a culpa é
do patrão? Claro que não. Vivemos numa realidade invertida onde poucos têm o
que merecem e muitos roubam o que tem. Triste? Sim, muito triste, mas é assim
que estamos acostumados a viver. Esta é a nossa “caverna de Platão”. Mas isso é coisa antiga, faz parte da vida,
então quem vai se revoltar, arregaçar as mangas para tentar mudar? Ficar irritado ao saber de mais um roubo absurdo no governo? Não! Já estamos
acostumados, como escuto por ai. Isso é o “normal”.
Agora o que esperar de um ídolo? Um atleta que teve nosso
apoio. Que apoio? Quem são vocês que estão ai gritando ter perdido um ídolo?
Quantas corridas de ciclismo assistiram? O que vocês sabem do mundo dos “pobres
coitados que tentam competir limpos”? Ora, tenham um mínimo de bom senso. Você aí que está usando palavras de
baixo escalão para julgar seja lá quem for. Você que trabalha sei lá com o que?
Nunca fez uma transação ilícita? Nunca burlou o sistema? Nunca deixou de pagar
um imposto ou fez a velha malandragem de pedir recibos de consulta para seu
médico e pegar reembolso com o seguro de saúde? Ah ta, mas isso faz parte do
seu trabalho, não é? São, como dizem, “ossos do ofício”. Então tá certo, vai lá
subir no topo da hipocrisia e aponta as pedras para quem fez do ciclismo seu
trabalho e também cometeu os tais ossos do ofício. Se eu acho certo? Não! Acho
um absurdo. Assim como acho um absurdo quando vejo alguém subornando um guarda na estrada. Mas acontece. Acho triste ver um cara que inspirou milhões de pessoas, no final
das contas ser o que? Um louco como o Dr. House do seriado. Um maluco capaz de
ser maior que todos em tanta coisa, inclusive na falta de escrúpulos. Um cara
que destruiu a vida de dezenas de pessoas com processos injustos. Mas e agora?
Qual a pena desse cara?
Vamos pendurar o Lance em praça pública e cada um de vocês
que nunca cometeu os crimes dele, mas que também nunca subiu numa bicicleta ou
passou anos treinando, como só é possível para um louco, vai pegar uma pedra e
jogar? É isso? É isso que somos? Um bando de seres que se dizem humanos mas
querem sangue?
Quantas pessoas usaram a “falsidade” dele e criaram forças
para enfrentar uma doença? E ai? Se curaram? Mas e agora? Vamos apedrejar pois
era tudo mentira. Tudo bem que mesmo a mentira serviu para pessoas que precisam
desses ídolos para vencer. Pior que isso são os que destilam seu ódio dizendo
com autoridade de cientista vencedor de Nobel, que a doença também foi culpa
dele. Claro, ele planejou este câncer. Planejou a cura e tudo o que seguiu.
Ah se a vida fosse assim tão clara. Ah se pessoas fossem
monstros ou anjos. Minha dúvida é principalmente uma. Somos realmente quem
dizemos ser? Ou somos nossos julgamentos, nosso ódio? O que faz de uma pessoa
melhor que a outra? Existem pessoas melhores? E o que faz de nós juízes da raça
humana?
Se estivesse em minha mãos julgar, eu o condenaria o Lance.
Tomaria os títulos, faria a justiça, como está prevista na lei em relação à
seus atos. Se coubesse a mim o veredito, seria culpado! Mas a pena a ser
cumprida, esta eu deixaria para quem tem mais competência do que eu para
julgar, afinal, o que eu sei de um mundo em que nunca estive? O que eu sei de
uma pessoa com quem nunca conversei? Só sei que é culpado, mais nada. Mas será
que isso é tudo?
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