30 de janeiro de 2004

Saudades do banquinho da canoa

Um passeio de canoa. Subíamos o rio a caminho de uma cachoeira. No barquinho, eu e outras três amigas, mais o canoeiro que ia de pé, despertando uma ilusória Veneza tupiniquim.
O “gondoleiro”cantava e mostrava um conhecimento surpreendente sobre tudo o que aparecia pela frente -“olha lá meninas, aquele ali, não é um caranguejo, mas um guaiamu, a diferença está nas cores e nos sabores, já aquela erva ali cura verme de menino barrigudo, e olha lá, ah que beleza, aquela sim é que é coisa boa,”deu uma encostadinha na canoa e logo estávamos perdidas entre a delicia do sabor e indescritível textura de um belo cacau.
Havia outras duas canoas com o resto da turma que vinha mais atrás. De vez em quando ouvíamos algumas gargalhadas e lembrávamos que não estávamos sós naquela imensidão de silencio.
Até que ouvimos um barulho distante de água e o barquinho parou.
Na volta, como uma turma queria parar para comer e a outra não, acabei mudando de barco. Foi quando aconteceu!
A viagem era a mesma, o barco idêntico e o canoeiro, bem, quase uma cópia do primeiro.
Os comentários agora mudaram, não se falava mais de guaiamu, nem siri, e sim daquele banco da canoa, mais duro que tijolo, dizia um,que tormento retrucava outro. A lentidão do nosso barquinho se tornava um pesadelo para meus amigos.
Era como se eu estivesse em dois lugares totalmente diferentes. Os mesmos prazeres de um lado, se tornavam desconforto do outro, foi quando entendi.
Vivemos sempre em alguma canoa com um gondoleiro ou um caiçara. Num passeio que pode ser prazeroso ou horroroso, tudo depende do foco do nosso olhar, afinal o banco da canoa era realmente duro, mas até aquele momento eu ainda não tinha percebido.

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