15 de julho de 2005

Abismo de Anhumas (Bonito-MS)




Abismo de Anhumas, viagem à Bonito MS

A corda balança. Olho para baixo, abismo. A cima da minha cabeça depois de alguns metros de cordas tensas como eu deveria estar, um buraco.Daquela fissura mínima, cortada no solo pela ação continua da água e do calcário,um abismo.Agora, aqui pendurada por um fio, revejo minha vida a começar por hoje. Acordei, tomei café,caminhei na mata ate chegar a um buraco de 3 metros de diâmetros, me amarrei a cordas e saltei para o que chamam de rapel. Em todo esse percurso porém, eu já estava aqui. Podia sentir o frio da sombra gigantesca da caverna de 600 milhões de anos. Segurava-me ao calor de um corda, para mim, cordão umbilical.
Podia ver o azul distante das águas esquecidas de um lençol freático, ou apenas um lago encantado. Agora, aqui, eu me lembrava de ter lembrado do que ainda não tinha vivido. O medo desceu antes. Passada a primeira etapa das cordas, é hora de trocar de roupas e descer mais dentro da água. O azul gelado cobriu meu corpo agora já devidamente equipado com mascara e oxigênio, mergulhei sobre um abismo de 90 metros de profundidade, coberto por formações rochosas de milhes de anos. Solidão. Silencio. Eu estava flutuando lá no fundo de uma imensidão esculpida de estalactites. Luz, apenas minha lanterna. Olhando para baixo, outro abismo. E foi do fundo, de perto do esqueleto de um tamanduá que o pânico chegou. Segundos de distração e uma tosse, afastaram meu respirador e a água entrou em minha calma. Voltar à superfície era impossível. Neste momento encontrei vindo do mesmo abismo do medo, a coragem, maior para os aflitos do que para os heróis destemidos. Fui terapeuta da minha psicose e acabei chegando è superfície. A caverna continuava linda, as pedras esculpiam formas ao meu redor, mas dentro de mim, um vazio infinito. Pensei em sair da água, deixar para traz aquela experiência de morte num lugar morto. Não saí. Chequei a autonomia do oxigênio, ainda tinha muito tempo, mas se eu saísse, aquele tempo ficaria ali para sempre, junto com minhas lembranças de um universo visto as avessas. Afundei em busca de coragem, cheguei ao abismo e contemplei a beleza de fora e de dentro do que por um momento julguei vazio. A solidão me trouxe o privilegio de ter apenas para mim, um jardim de pedras esculpidas por uma natureza cíclica e eterna. Por um momento pude ser também eu, parte de um mundo surreal e maravilhoso, escondido no coração da terra e guardado para sempre em minha memória.

DICA: Vale a pena mergulhar no abismo, mas apenas se vc estiver bem tranquilo,o melhor do mergulho é a calma para observar e aproveitar o que encontramos la no fundo. meu guia foi ótimo, procure pelo Aladim.

A comida e a cidade não são das mais gostosas, mas vale a pena provar carne de jacaré.

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