10 de janeiro de 2007

Às margens da estrada




Mais de duas horas pedalando por subidas esburacadas, trilhas de areia fofa e sol na cabeça.
Para mim, um dia perfeito com amigos mais que divertidos e um gostinho delicioso de férias ainda pela metade.

Parada para tomar coco no vale dos búfalos e logo depois, tempo de descansar numa tribo indígena enquanto um de nós trocava o pneu furado.

A empolgação da aventura vai aos poucos deixando lugar à reflexão.
Sentada na terra esburacada, observo o olhar das crianças brincando sobre a terra onde moram.

São quatro. Todas com a barriga com jeito de casa de parasitas.
Os olhos amarelados. Sorrisos curiosos seguem atentos os intrusos viajantes.
Um cachorro corre entre eles e lambe a boca de uma menininha que parece não ter mais de dois anos.
As crianças brincam deixando para trás o olhar magro de uma mãe com muitos fios de cabelo branco e nem um dente na boca.

Agonia e ingenuidade se misturam na pele queimada de sol de uma brasileira que parece ser feliz por não se saber sofrendo.

“Ingorance is bliss”.

Lá estava eu, diante da realidade nua e crua do nosso país.
O que aconteceu com nossos índios? Perderam-se como os dentes desta que já foi um dia uma delas?
Os índios viraram miseráveis.
Os pobres tentam ser índios em troca de algum trocado e uma foto numa câmera digital viajante.

Enquanto nós fazíamos rir as crianças com a mágica da tecnologia que guarda musicas e imagens numa caixinha colorida. Eles, os pobres que já foram índios, deitavam e rolavam na terra seca que chamam de casa.

Eles nascem, sofrem e riem ali naquela casinha feita de chão.
Alguns se tornam adultos outros, como disse a mulher, vão a caminho do céu.
A água, onde um menino lava o nariz é a mesma que vai para cozinha.
Eles não conhecem a higiene. Pergunto sobre banho e eles se olham zombando de mim.

Ali, diante de nós estava a mais difícil de todas as trilhas a ser superada;
A ignorância. A fragilidade daquele povo escondida na força bruta de meninos que já nascem homens, fazendo força para serem fortes, antes de serem crianças.

Naquele momento, meu dia perfeito parou para ver passar a cruel realidade que vive as margens do sonho.




2 comentários:

Axel Pliopas disse...

Estou aqui em casa... Começou a chover, ajeitei as janelas e o ar continuou confortável apesar do calor escaldante que ultimamente ferve a antiga terra da garoa. Estou com um pouco de fome, mas ainda não o suficiente para lidar com o difícil problema de decidir: como alguma das frutas que foram compradas da feira, faço um lanche, uma rápida macarronada no jantar ou peço uma pizza? São muitas opções... Talvez eu prefira antes é tomar um banho quente e colocar um pijama confortável, até lá a fome já se definiu, quem sabe...

E o mundo lá fora? Os ex-índios? As crianças... Uma velha miséria morrendo no esquecimento e uma nova miséria sendo criada...

Ah, tudo abstrato, abstrato...

O que é preciso para as pessoas sentirem o que acontece por aí?

Giovanna Vilela disse...

Acho eu Axel, que precisamos focar para entender o que acontece por ai... Não basta olhar,tem que enxergar.

até mais*