11 de fevereiro de 2007

O que podemos fazer?


Voltando para casa de noite, parei num farol e vi alguns meninos cheirando cola de sapateiro. Sem sapatos, sem camiseta e aparentemente desarmados. Caminharam na direção do carro que estava na minha frente, que imediatamente acelerou e passou no farol vermelho, arriscando bater em outro carro que vinha do outro lado.

Fiquei sozinha e vi que um menino vinha em minha direção. O menino desamparado, coberto com o manto da noite, ganhou força, parecia imortal ou já morto. Armado de um olhar adulto, não tinha medo nos olhos. Buscava o medo do outro lado, em nós, prisioneiros da nossa liberdade blindada.

A chuva apertou e ele continuou ali, parado bem na frente do meu carro. O farol abriu e ele não se mexeu. Naquele momento me dei conta que eu não estava diante de um menino, mas da juventude abandonada, da violência urbana, da impunidade, da realidade em que vivemos achando normal.

Ali, eu não era uma pessoa, era a sociedade presa dentro do nosso sistema. Eu, desprotegida, ainda que dentro do meu carro, mas viva. O menino, vítima e violência, sem vida, sem medo e sem pressa. Deixa seu corpo na nossa frente, na rua, em cada esquina em cada lugar. Seus rostos mudam, mas o olhar e o final da história são sempre o mesmo, uma juventude sem futuro.

No dia seguinte, novamente me deparei com a juventude jogada na rua. O olhar do menino assombrou minha mente ao ler o que consegui sobre o pequeno João.Não sou capaz de encontrar palavras para o que senti diante do carro. A bem da verdade me falta coragem para pensar no que li. Passei o dia todo fugindo das imagens terríveis.

Agora de noite, o rostinho do João vem novamente me lembrar que somos todos vítimas e também culpados da violência que pouco a pouco se torna parte da nossa vida. Quantos Joãos serão arrastados até que o Brasil acorde? O governo cheio de “medidas de emergência” para acalmar e enganar a população, de repente, diante do olhar atento de um país, mostra como consegue chegar rápido aos culpados.

O Brasil, como uma criança mimada, não obedece sozinho, precisa ser cobrado, vigiado e punido. O Brasil somos nós, não é o governo. Temos que entender que nada adianta ficar aqui sentados, falando mal dos políticos, da policia e dos criminosos. Falar não resolve nada.

Todos temos soluções na ponta da língua para os problemas dos outros, mas este é um problema nosso. Os monstros que mataram João não são apenas aqueles meninos, são muitos outros que estão soltos por aí. São meninos que ainda irão nascer num canto qualquer de uma rua suja e uma vida pior ainda. Não podemos voltar o tempo e reeducar essas criaturas para que se tornem gente.

Podemos sim, salvar os que ainda estão sendo gerados na ignorância do nosso país. Pare de culpar o governo (ainda que ele seja o maior culpado). Faça alguma coisa para mudar o seu mundo. Aqui, algumas idéias de como eu e você podemos ajudar a mudar esta realidade:

1- Se não podemos resolver o problema do país, certamente podemos ajudar a resolver o problema do nosso bairro. Se informe, tenho certeza que aí bem pertinho da sua casa tem uma instituição de caridade. Vá lá, da uma olhada. Se for séria ajude, se não denuncie.
2- Pare de dar esmolas na rua. Isso só ajuda a sua consciência. Guarde suas moedas e dê a pessoas sérias.
3- Comece a mudar o mundo com o mundo a sua volta.Tente ajudar as pessoas carentes que estão próximas a você.
4- Não jogue comida, nem água fora.

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