15 de outubro de 2007

A primeira lagrima




Mais um pedacinho do meu livro. Este é o dia em que Dahlia (personagem principal do meu livro) recebe um cartão postal do outro lado do mundo e uma carta, que nesta parte ela ainda não leu.


...Quando recebeu a notícia o resto do seu corpo já estava sobre a bicicleta violeta. Moveu as pernas com uma força descomunal como se o suor escorresse o que seriam lagrimas. Na cestinha, junto com as flores e os livros, ainda estava o seu retrato, retrato deles, juntos, no dia em que pensaram ser o primeiro de todos os outros.
As subidas tornaram-se retas e depois descidas, tamanha a dor. Um grito de saudade e silêncio ecoou fundo e trouxe a lembrança da última vez em que ouviu seus lábios antes de dormir mais uma noite a seu lado.
Porque não usou todas as palavras presas na garganta quando o tinha por perto? Quando foi o minuto, o segundo em que a dúvida se tornou certeza e ele partiu? Ou teria partido porque a certeza se tornou dúvida? Os pensamentos esmagavam sua cabeça e pioravam ao se dar conta de que eram tolos pensamentos clichês de sentimentos comuns que se acabavam todos os dias. A desconfiança de que a sua, poderia ser apenas mais uma história das tantas desaparecidas numa esquina qualquer da vida, entre a falta de uma palavra e o amor deixado para depois, enchia de vazio a sua esperança.
Aberta, a porta de correr amarela deixava a vista os livros empilhados, escondendo o resto do único amigo capaz de entender sua dor, quando a bicicleta que a carregava parou. Palavras não foram ditas, não era preciso.
Tudo continuava dolorosamente fora do lugar. Até mesmo o abajur ainda escondia a mesma lâmpada amarela, testemunha de tantos beijos e segredos trocados.
E por fim, abrindo o livro com a fotografia dele sobre as ondas, deixou cair a primeira das vinte e sete lagrimas...

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