A gaveta estava emperrada. Não sei se o tempo, o esquecimento ou o medo prendeu a fechadura. Sobre ela, no criado mudo, livros, companheiros de quem busca preencher o lugar de pensamentos.
Já era tarde. Seria tarde demais? O reflexo da lua escapava entre as cortinas fechadas milimetricamente. As roupas que não eram suas vestiam seu corpo na esperança de encontrar um pouco de paza. A ordem na casa, nas roupas recém chegadas da lavanderia, se fez desordem na cabeça, na alma.
Da gaveta emperrada uma foto derramou a primeira de tantas lagrimas. A foto era grande demais, estava prendendo na fechadura da gaveta. Nela um casal sorria dentro de um barco cheio de amigos. Reconheci alguns rostos, quanta coisa mudou desde a foto. O casal da foto ficaria sempre lá, naquele dia, naquela ilha, como uma afeição eterna.
O criado mudo, a gaveta emperrada, uma noite mal dormida, mal vivida. Um amor emperrado, atravessado por outra noite, um carro parado na porta errada e a confiança fugindo para outro lado, outra casa, outro sonho.
Palavras, palavras, companheiras solitárias de uma decisão pensada, sofrida e agora, neste momento, desfeita.
Um comentário:
seria um hiato?
gostei do seu texto.
bjos
Postar um comentário