28 de fevereiro de 2011

Moacir Sciliar




Ele vai deixar saudades.
Os Enéas e as frases mágicas são raros, mas isto não impede os candidatos de lutar pelos votos.

Moacyr Scliar

No começo, reinava a escuridão; mas Deus disse “Faça-se a luz”, e a luz se fez. A caverna dos bandidos, com todas as suas riquezas, estava hermeticamente fechada; mas Aladim disse “Abre-te Sésamo” e a caverna se abriu. Pela lei romana, nenhum general com tropas poderia cruzar o rio Rubicão; mas Júlio César disse “A sorte está lançada” (ou, em inglês, “fuck you”) e foi em frente. O que tem em comum estas três situações? Frases mágicas, claro. Frases que mudam tudo.

Atrás de frases assim estão os candidatos a cargos eletivos. As limitações do horário gratuito, muito curto (mas, para a maioria dos brasileiros, provavelmente longo demais), representam um desafio à imaginação. Desafio difícil. Em geral a propaganda eleitoral recorre a fórmulas velhas, batidas: saúde, segurança, educação, transporte, habitação. Algumas batem na igualmente desgastada tecla da mudança. Outras apelam para a nostalgia emocional: “Tive uma infância pobre”. A suprema originalidade é algo tipo: “Não prometo nada, eleja-me para você ver”. Eleitores jovens, que ZH ouviu na última quinta, manifestam a sua descrença: “Falam sempre as mesmas coisas”, disse Lucas Angellos, 17 anos.

Mas existiu um político que, involuntariamente embora, criou uma frase de enorme repercussão: Enéas Carneiro, falecido em maio de 2007. Médico de profissão, político, fundador do extinto Partido da Reedificação da Ordem Nacional, o PRONA, Enéas candidatou-se três vezes à Presidência e à Câmara. O tempo que lhe davam no horário gratuito era tão exíguo, que ele apenas podia dizer umas poucas palavras; mas concluía, com voz de trovão: “Meu nome é Enéas!”. Para vocês terem uma idéia do sucesso desta frase, entrem no Google: existem nada menos de 55.300 referências a respeito. Mais que isso, Enéas agora tem um sósia: o candidato a vereador de São Paulo Luciano Enéas Martines Nantes Soares (PTN), 37 anos, que se apresentou no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV como “filho de Enéas” e prometeu “continuar o trabalho do pai”. Usando a mesma barba, os mesmos óculos, o mesmo bordão e a mesma musiquinha de propaganda de Enéas Carneiro, Luciano não é, contudo, filho dele. O Ministério Público Eleitoral já solicitou à Polícia Federal uma investigação a respeito.

Os Enéas e as frases mágicas são raros, mas isto não impede os candidatos de lutar pelos votos. Atrás de seus pronunciamentos, por bisonhos que sejam, existem, muitas vezes, sonhos, ideais, uma vontade genuína de ajudar. A democracia é isso, uma mistura de sinceridade com oportunismo. A mesma mistura que, em doses variáveis, existe dentro de cada um de nós.

Um comentário:

Mais Hortolândia disse...

Quando eu era criança eu assistia o horario politico só para ver o eneas =D rsrsrs

parabems pelo blog
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