O vão do MASP parecia sentir a vibração. Foi diminuindo de tamanho a medida que o povo chegava. Começou discreto. Algumas pessoas atravessavam a rua e paravam no meio. Parar no meio da Avenida Paulista? Isso deve ser loucura, pensavam os primeiros a chegar, e logo desistiam, seguiam rumo a outra calçada. O barulho era íntimo e acolhedor. Cada um devia estar se perguntando. E agora? O que fazer? Como começar o movimento?
Pouco a pouco as vozes surgiram. Eram são-paulinos,
corintianos, brancos, negros, orientais, jovens e senhores. Todos brasileiros.
Sussurravam envergonhados alguns versos. Depois outras vozes se uniram e o som
cresceu. Os carros ainda passavam, mas iam mais lentos. Olhavam atentos para
cada cartaz. O que aquela gente tinha para falar? “Acorda brasileiro, tão
roubando o seu dinheiro”, dizia a cartolina nas mãos de uma senhora alegre
vestida de preto. Os motoristas começaram a buzinar. Opa, esse povo aí está
falando de mim, pensavam. Palhaços fantasiados ou não iam chegando. A
indignação ia crescendo. As três senhoras que antes, tentaram fechar o
transito, transformaram-se em trinta e logo depois duzentas. O transito parou.
Gol. Sabe aquele grito amarrado que sai ao ver a bola na rede. Foi ele que
acordou dentro de cada um.
Um grupo de senhoras. Uma turminha de adolescentes. Pais com
crianças nos ombros. A marcha criou corpo e ao som de buzinas seguiu em frente.
Pra que isso? Perguntou um amigo pelo telefone? De que
adianta gritar? Quem vai te ouvir? O que vai mudar?
Aí vai minha resposta:
Um país é feito de pessoas, não apenas de políticos. Cada um
de nós tem voz e tem princípios. Nem tudo o que faço tem uma finalidade, neste
caso tem uma força. Esta força se chama indignação. Infelizmente não sou o tipo
de pessoa que é roubada, enganada, feita de palhaça e vira as costas como se
nada fosse.
Se vou ajudar a mudar este país? Não sei, quem sabe.
Mudanças levam tempo e se nossa “marcha sem sentido”, como
você disse, não ajudar a mudar a política, mas inspirar uma entre as milhares
de crianças que participaram, quem sabe seja esta criança a governar o meu país
um dia. O mundo é feito de exemplos, de princípios e de sonhadores. Alguns
invejam a grama verdinha do vizinho, outros cuidam do próprio jardim. O que
importa, meu amigo é que quem cala, consente.
3 comentários:
Titãs tem uma música perfeita: Vossa Excelência.
Estão nas mangas dos Senhores Ministros. Nas capas dos Senhores Magistrados. Nas golas dos Senhores Deputados. Nos fundilhos dos Senhores Vereadores. Nas perucas dos Senhores Senadores.
Senhores! Senhores!
Filha da puta! Bandido! Corrupto! Ladrão! ...
Perfeita esta música, Pedro. :) É isso mesmo. bjs
É isso aí Gi!! Sempre alertas! Danita.
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