7 de outubro de 2011

Quem é Normal?


Talvez tenha sido a morte de Steve Jobs, talvez a minha própria vida. Mas hoje passei o dia pensando na minha falta de normalidade. Onde foi que eu decidi que seria diferente? E quem foi que disse que sou eu que saí errada e não os outros que saíram de uma forma já usada?

Cresci ouvindo dos meus pais que eu deveria me adequar, cair na real. Enquanto minhas amigas estudavam e pensavam em casar, eu pintava quadros, dava curso de pintura em seda e juntava dinheiro para sair pelo mundo. As pessoas normais buscavam uma família, uma parada, eu era só partida.

Minhas irmãs namoraram anos e depois casaram. Eu morei junto e nunca casei.
Até que queria, queria usar um vestido branco, fazer uma festa, mas nada de padres me obrigando a fazer promessas infinitas. Eu sou finita e minhas vontades também. Tudo em mim tem um fim e foi sempre assim, até que fui pega de surpresa e meu filho chegou para me colocar as rédeas que ninguém havia conseguido. Não tive tempo de sonhar com a maternidade, ela chegou antes e eu, acostumada a mudanças, me tornei logo uma mãe e conheci o único amor infinito.

Com o tempo fui tentando mudar, ficar mais normalzinha. Enquanto isso, meu filho foi crescendo e minha responsabilidade aumentando. De vez em quando, confesso, eu tinha saudade de mim, da minha liberdade, das possibilidades que se tem quando se é imortal. E todos os seres humanos de vinte e poucos anos são imortais. Eram nestes dias que eu voltava a ser eu. Escrevia, fotografava, esquecia do tal normalismo e me deixava voar. Mas sempre aparecia alguém para me puxar para o chão. “Você é uma mãe. Mães não saem pelo mundo escalando montanhas. Mães não perdem tempo escrevendo, mães não podem ser diferentes.”

Até que ontem eu descobri que a menina imortal de vinte anos ainda está aqui, só que agora ela não é mortal, é madura, sabe que também ela acabada um dia e é exatamente por isso que não pode escutar os outros. Ouvindo as palavras de Jobs, ignorei esse monte de gente a minha volta e voltei a vida. Voltei a ser a errada da família, a esquisita. Voltei a pensar que o mundo é meu.

Quanto a ser mãe. Descobri que este aplicativo já vem instalado e meu filho nasceu na era Jobs.

Um comentário:

Julio Cesar Corrêa disse...

Giovanna, o mundo é movido pelos normais. Mas o combustíveis são os anormais como vc e Jobbs. O que seria do mundo sem vcs? Certo estava o Raul.
bj