Talvez tenha sido a morte de Steve Jobs, talvez a minha
própria vida. Mas hoje passei o dia pensando na minha falta de normalidade.
Onde foi que eu decidi que seria diferente? E quem foi que disse que sou eu que
saí errada e não os outros que saíram de uma forma já usada?
Cresci ouvindo dos meus pais que eu deveria me adequar, cair
na real. Enquanto minhas amigas estudavam e pensavam em casar, eu pintava
quadros, dava curso de pintura em seda e juntava dinheiro para sair pelo mundo.
As pessoas normais buscavam uma família, uma parada, eu era só partida.
Minhas irmãs namoraram anos e depois casaram. Eu morei junto
e nunca casei.
Até que queria, queria usar um vestido branco, fazer uma
festa, mas nada de padres me obrigando a fazer promessas infinitas. Eu sou
finita e minhas vontades também. Tudo em mim tem um fim e foi sempre assim, até
que fui pega de surpresa e meu filho chegou para me colocar as rédeas que
ninguém havia conseguido. Não tive tempo de sonhar com a maternidade, ela
chegou antes e eu, acostumada a mudanças, me tornei logo uma mãe e conheci o
único amor infinito.
Com o tempo fui tentando mudar, ficar mais normalzinha.
Enquanto isso, meu filho foi crescendo e minha responsabilidade aumentando. De
vez em quando, confesso, eu tinha saudade de mim, da minha liberdade, das
possibilidades que se tem quando se é imortal. E todos os seres humanos de
vinte e poucos anos são imortais. Eram nestes dias que eu voltava a ser eu.
Escrevia, fotografava, esquecia do tal normalismo e me deixava voar. Mas sempre
aparecia alguém para me puxar para o chão. “Você é uma mãe. Mães não saem pelo
mundo escalando montanhas. Mães não perdem tempo escrevendo, mães não podem ser
diferentes.”
Até que ontem eu descobri que a menina imortal de vinte anos
ainda está aqui, só que agora ela não é mortal, é madura, sabe que também ela
acabada um dia e é exatamente por isso que não pode escutar os outros. Ouvindo
as palavras de Jobs, ignorei esse monte de gente a minha volta e voltei a vida.
Voltei a ser a errada da família, a esquisita. Voltei a pensar que o mundo é
meu.
Quanto a ser mãe. Descobri que este aplicativo já vem
instalado e meu filho nasceu na era Jobs.
Um comentário:
Giovanna, o mundo é movido pelos normais. Mas o combustíveis são os anormais como vc e Jobbs. O que seria do mundo sem vcs? Certo estava o Raul.
bj
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