O trabalho na escola mal havia acabado, eu pegava a mala e me mandava para o Mato Grosso.
Descobri cedo que a natureza, assim como meu pai, não tirava
férias.
Antes do sol, eu já estava de pé com a caneca cheia de
Ovomaltine, esperando o leite grosso e morno sair espumando das torneirinhas da
vaca.
Acabava, vestia minha roupa de trabalho, calça jeans e bota
e ia para o curral. Na época eu pensava em ser veterinária. Trabalhava com a
Nayá, a veterinária da fazenda. Criança lá, era apenas mais uma palavra. Minhas
funções eram coisa séria. Vacinar o gado, operar umbigueira, exames de sangue e
por ai vai. Achava o máximo a agulha torta e as pinças para fechar as veias do
touro, anestesiado por mim, claro. O trabalho era duro e ficávamos todos até a hora de terminar o serviço, dia ou noite, segunda ou domingo.
Ele me chamava para trabalhar e estava sempre lá, se
divertindo, fazendo o que mais amava. Comecei a achar esse tal de trabalho uma
maravilha.
Fui crescendo e desentendendo o mundo que acordava cedo
reclamando, ia ao trabalho rezando para chegar a hora de voltar para casa e
passava a semana toda esperando os finais de semana para se livrar do trabalho.
Acordo cedo e no lugar do leite morno, tomo suco, calço os
tênis e corro. Meu trabalho continua sendo sério e eu continuo sendo criança.
Opero e tiro o sangue das palavras, me divirto com os nós que dão as frases e
não conto os dias, feriados ou finais de semana, crio os contos para contar a
vida.
Minha fazenda é meu computador. Meu escritório é o mundo e
meu trabalho são minhas férias. É por isso que em breve vou levar meu escritório
comigo para Tailândia, vou seguir o que sem saber, meu pai me ensinou. Nestes dias,
estarei trabalhando aqui.
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