21 de dezembro de 2011

Férias


O trabalho na escola mal havia acabado, eu pegava a mala e me mandava para o Mato Grosso.

Descobri cedo que a natureza, assim como meu pai, não tirava férias.
Antes do sol, eu já estava de pé com a caneca cheia de Ovomaltine, esperando o leite grosso e morno sair espumando das torneirinhas da vaca.
Acabava, vestia minha roupa de trabalho, calça jeans e bota e ia para o curral. Na época eu pensava em ser veterinária. Trabalhava com a Nayá, a veterinária da fazenda. Criança lá, era apenas mais uma palavra. Minhas funções eram coisa séria. Vacinar o gado, operar umbigueira, exames de sangue e por ai vai. Achava o máximo a agulha torta e as pinças para fechar as veias do touro, anestesiado por mim, claro. O trabalho era duro e ficávamos todos até a hora de terminar o serviço, dia ou noite, segunda ou domingo.

Ele me chamava para trabalhar e estava sempre lá, se divertindo, fazendo o que mais amava. Comecei a achar esse tal de trabalho uma maravilha.
Fui crescendo e desentendendo o mundo que acordava cedo reclamando, ia ao trabalho rezando para chegar a hora de voltar para casa e passava a semana toda esperando os finais de semana para se livrar do trabalho.

Acordo cedo e no lugar do leite morno, tomo suco, calço os tênis e corro. Meu trabalho continua sendo sério e eu continuo sendo criança. Opero e tiro o sangue das palavras, me divirto com os nós que dão as frases e não conto os dias, feriados ou finais de semana, crio os contos para contar a vida.

Minha fazenda é meu computador. Meu escritório é o mundo e meu trabalho são minhas férias. É por isso que em breve vou levar meu escritório comigo para Tailândia, vou seguir o que sem saber, meu pai me ensinou. Nestes dias, estarei trabalhando aqui.

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