22 de maio de 2005

O mendigo da praça

Era uma daquelas manhãs que parecem suspensas no ar pesado da cidade que não pára.
Deitado entre um cesto de lixo e um banco, um homem. Olhos entre abertos a espionar o dia em que sua vida haveria de mudar, mas ele ainda não sabia disso.Fechou os olhos, apoiou a cabeça no jornal e voltou a flutuar em seus sonhos. Sr.Manuel era nesta vida um personagem eterno, vivendo uma peça sem fim.

Conhecido na região pelo mau cheiro, já foi gente um dia, com emprego e contas para pagar, mas aparentemente, nem mesmo ele se lembrava de tal fato.
Tantos anos ali, naquela praça da alta sociedade, vivendo entre o lixo e o luxo da metrópole paulista.

Os moradores, incomodados com aquele objeto identificado como “um cheiro ruim”, se uniram e mandaram Sr.Manuel ao cabeleireiro, na tentativa de solucionar o problema, dos moradores, é claro. Afinal uma pessoa poderia até morar na praça vizinha á Daslu, passar fome e frio, mas nunca, jamais, enfear a decoração de uma vizinhança como a Vila Nova Conceição.

O velho não tinha casa, perdeu o emprego, a família e o respeito pelo mundo, mas pior que isso, na manhã de hoje, acordou sem história, sem passado, sem futuro, passou a ser um cheiro e mais nada!

O mendigo abriu os olhos, tomou seu café com querosene e olhou para as pessoas paradas na sua frente. Por algum tempo, teve certeza de estar sonhando e voltou a dormir pensando estar acordando.
Um barulho de sirene e vozes agora mais próximas trouxeram de volta um pouco da atenção daquele homem perdido dentro de si.
Tentou se mexer, mas não pôde. Quando enfim acordou,estava sendo puxado por pessoas uniformizadas que diziam levá-lo para casa.

O que estaria acontecendo?O querosene flutuava em sua mente, quando viu uma mulher tirar alguma coisa do bolso e de repente sentiu um líquido gelado percorrer seu corpo, sentindo uma sensação quase mágica, que aos poucos o levou para longe de tudo.

A praça voltou a ter o perfume das árvores, o barulho sumiu, a sirene parou, e naquela mesma manhã, o homem voltou a ser gente vestido de homem em meio a loucos vestidos de branco.

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