2 de fevereiro de 2007

Café-com-Leite

Café com leite é o que todos fomos um dia. Numa época em que, fome e guerra eram coisas do cinema, ou então da hora do lanche das férias na fazenda. Começava a brincadeira, tudo era brincadeira, até o que não era para os chatos dos adultos, para nós, café-com-leite, era sempre.

Quando a coisa começava a esquentar, o jogo ficava divertido, nós podíamos tudo. Até perder a bolinha do jogo de taco no lance decisivo. Ser Café com leite também tinha suas mazelas. Podíamos dar nosso melhor, mas os outros sabiam, mesmo tudo, nunca era o bastante.

Eu menina, morria de medo de uma coisa – pessoas mortas. Fácil para os adultos tentarem nos convencer de que mortos não fazem nada, afinal foram eles mesmos que nos disseram um dia que os mortos não se vão para sempre, vão para o céu!E quem vai passear, pode bem voltar.Os fantasmas, assim como o bicho papão e o Papai Noel, só existiam para quem tinha imaginação, e isso, bem, os adultos perdem junto com os medos, talvez por isso eu ainda tenha um pouco de imaginação.

Outra coisa boa da infancia é acreditar que nada é para sempre. Nos filmes, quem leva tiro sai mancando. A bomba nunca acerta o Papa-Léguas e o Coiote, mesmo bombardeado, sai apenas achatado. Nem mesmo os mortos se vão para sempre. Vão para o céu, levados por anjinhos. Doce a vida do café com leite trazido pela cegonha.

Um dia, sem mais nem menos, saímos desta dimensão sem riscos e somos obrigados a aprender perder, a cair e a levar bolada sem poder chorar. Cíclica, a vida vai dando volta em nós, até o dia em que, de novo, aprendemos a traçar o próprio caminho. Deveria ser assim, mas nem todos deixam de ser café com leite, apenas mudam o estímulo e começam a dar voltas nos outros a espera dos lucros.

Hoje de manhã, lendo o jornal, desejei de novo ser café com leite, e acreditar que tudo isso, é apenas história inventada por algum adulto para colocar mais “emoção no mundo”.

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