1 de julho de 2010

Bailarina

Bailarina


Eu estava pedalando, a subida era longa, mais de dez minutos e tudo isso sem sair do lugar.
Do outro lado, na sala de balé, uma senhora com uniforme de faxineira limpava os vidros.
A subida continuava embalada por um Rock.
Enquanto meu corpo derretia desse lado, a mente voava do lado de lá, onde para mim, as notas eram bem diferentes.

A senhora passava o pano de um lado para outro.
Encontrou os próprios olhos, mas parecia buscar algo mais no espelho.
A subida finalmente acabou e voltei a sentar no banquinho deliciosamente desconfortável da bicicleta.
A minha personagem continuava limpando os cantos da sala vazia de pessoas.
Desse lado, somavam-se à música, palavras de incentivo do professor, misturadas aos gritinhos das gym-girls, todas iguais.

Aos poucos me desliguei de todo o barulho da aula e pude ouvir Tchaikovsky do lado.
Foi quando observei a mulher deslizar a vassoura para o canto e se transformar.
As mão calejadas seguravam a barra. De dentro do uniforme bege vi surgir passos que só poderiam ser de uma bailarina.
Seus movimentos a delatavam. Tinham paixão. Chegavam antes dela. Vi o dia em que sentiu o tablado cantar sob seus pés.
Os aplausos e o silencio quebrado pelo barulho egoísta de seu coração. Aplausos que eram so dela.

No camarim, as dálias ficavam ainda mais negras a sombra do charuto dele.
O cheiro de dor misturado ao tule e lagrimas guardados na mala. Nao sabia se fazia frio.
Estava sem direção. Pintou sua tristeza com batom carmim.
Calcou seu corpo em saltos mais altos do que sabia caminhar. Nao olhou para trás.

Subiu os degraus arrastando a mala e entrou no trem.

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