14 de junho de 2012

Rebeldes ou moleques?

Cripta do movimento "Pixação" jogando tinta no curador 
A arte sempre me acompanhou. Antes mesmo de entrar para faculdade de Belas Artes, em plena adolescência, minha família e eu já me considerava artista. Algumas vezes cheguei a pensar que talvez fosse este o sinônimo de rebelde, já que era a segunda palavra usada para me tratar, carinhosamente ou não.
Cresci assim e acabei me acostumando. Se eu tinha um problema, me trancava na "lavanderia", um quarto enorme com varanda, pensado para ser uma lavanderia e roubado para mim, o que foi bem simples já que nenhum dos meus 4 irmãos se interessou em entrar nessa disputa.

Comecei pintando Snoops, e fui crescendo junto com as telas, tintas e claro, a revolta. Aos poucos acabei me acostumando com o tal sentimento de conflito em que diziam, eu vivia mergulhada. Até eu estranhava quando concordava com tudo.

Meu mundo foi sendo escrito em cores e símbolos. Desde muito nova me apaixonei pela mitologia. Usava estas histórias como uma fantasia para encobrir o que me incomodava no mundo. Eu não entendia nada de arte, pelo menos não da arte que ficava dentro dos museus que eu costumava frequentar. O que eu sabia era que algumas coisas ali dentro tinham a incrível capacidade de mudar outras coisas, que eu nem sabia o que era, dentro de mim.

Me lembro da emoção que senti ao olhar uma tela gigante com cores frias, cabeças cubistas que pareciam se contorcer de pânico. A Guernica também olhava para mim. Me desafiava a entender aquela língua um dia também chamada rebeldia.

Muitos anos depois, a Guernica continua em Madrid. Eu continuo sendo chamada de artista e claro, a rebeldia continua meu apelido. Mas a arte saiu dos museus, subiu em prédios, cobriu muros e brigou por cada centímetro do seu direito de ser. O que nunca mudou e dificilmente mudará é a tal da "coisa". Aquela coisa que mesmo um leigo sente ao se ver diante de uma obra de arte.

"A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade", disse uma vez Pablo Picasso. E é exatamente esta mentira a máscara usada por todos os artistas. Mas o que a torna verdade? Em minha opinião, ha apenas uma verdade para cada artista. Minha máscara será arte em mim e pode até inspirar arte em outro, jamais será arte em outra pessoa.

Cada um de nós é absolutamente único, tanto fisica como intelectualmente. Ainda que muitos sigam o senso comum, este nunca será o senso de todos, mas apenas um lugar seguro onde a maioria escolheu ficar. Talvez seja este o motivo de tantos artistas serem considerados "diferentes" ou "rebeldes".

Mas isto não torna todos os rebeldes, artistas. Para que a arte aconteça fora, é preciso estar antes dentro de quem a cria, ou não existirá de fato. Por isso considerei muito mais um ato de rebeldia feito por moleques, do que um protesto artístico, o que o grupo de brasileiros, convidados para nos representar na Bienal da Alemanha aprontou. Jogar tinta no curador? Onde está a arte disso? Contra o que ou quem eles estão protestando? Ou será que os nossos artistas foram pegos usando máscaras de outros?

Para ler sobre o acontecido da Alemanha clique aqui.

Nenhum comentário: