15 de agosto de 2012

A Carta


Costumo dizer, e acredito, que o mês de agosto, mês do meu aniversário, é mágico. Desde pequena acreditei nisso, e talvez seja este o motivo dele ter se transformado em conto de fadas.

Muitas das datas que marcaram minha vida, aconteceram justamente em agosto. A primeira exposição na época em que eu pintava quadros, o primeiro beijo. O lançamento do meu primeiro livro.

Agosto é minha primavera. É quando me sinto mais bonita, é quando acredito de novo que sonhos são apenas rascunhos. E se envelheço um ano cada vez que viro as páginas deste mês no calendário, sinto-me sempre mais jovem de alma, quem sabe pelos passos que vou dando em outra dimensão, onde o nosso tempo nada significa, se não números. O fato é que em agosto, tudo pode acontecer, pelo menos para mim.

Acabo de receber meu primeiro presente de aniversário. Uma carta! Quando vi o envelope, tímido entre as contas, tantas contas. Duvidei. Antes de abrir, pela transparência do papel, notei várias linhas escritas à mão.
Ninguém “perderia” tanto tempo escrevendo cartas publicitárias ou de pedido de doação. Investiguei o envelope e me surpreendi ao saber que a carta vinha de Boa Esperança, cidade onde nasceu meu grande ídolo da música, Nelson Freire e também uma grande mulher, minha mãe.

Mas a letra, delicada, escrita com a calma que só quem mora no interior tem, não poderia ser da minha agitada mãe.

Ha quanto tempo eu não segurava uma carta de verdade. Carta escrita com carinho. Vislumbrei uma pessoa sentada em sua escrivaninha, de onde tirava com cuidado uma caneta e mergulhava por inteiro em mim. Sim. Para escrever uma carta, assim como para tocar piano, não se pode pensar em outra coisa. Cartas, diferentes de computadores, não tem outras janelas chamando nossa atenção. A carta é a estrela. Branca, aguarda paciente palavras serem colocadas, uma a uma.

Falava sobre meu livro, sobre cada parte dele. Da capa, epígrafe, e do texto. Não apenas o texto por completo, mas partes dele. Citava ainda palavras minhas, reescritas por suas mãos atentas.

Emocionada, deixei todos os outros envelopes, que em nada me interessavam e sentei no sofá com a calma e atenção que uma carta merece.
Li e reli atenta a força de cada ponto, vírgula. Podia sentir a respiração sábia de quem tem o tempo como súdito.
Três páginas depois, aprendi sobre meu próprio texto. Encontrei significados escondidos não apenas nas minhas palavras, mas na minha escrita.
E finalmente cheguei à última e mais importante palavra. Jane, o nome de quem me lembrou onde nasce a escrita e para onde ela deve ir.
Obrigada, Jane, por meu primeiro presente de aniversário.

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